segunda-feira, abril 19, 2004

Utopia

Aspiro a uma sociedade de onde sejam banidos o parasitismo, a exploração, a humilhação, a opressão, a corrupção, a competição desenfreada, a mentira e o terror, onde o indivíduo tenha garantida a satisfação das suas necessidades básicas em termos de alimentação, saúde, educação e segurança como contrapartida da sua contribuição para o colectivo que deve resultar de uma vocação manifestada e determinada desde tenra idade.
Assumo que o Estado tem, numa primeira fase, um papel importantíssimo na conciliação e procura de equilíbrio entre os interesses individuais e os interesses colectivos.
Admito a propriedade e o crescimento da riqueza privadas desde que a sua utilização contribua para um desenvolvimento económico e social, submetidos quando necessário à satisfação de necessidades sociais. Reconheço, por isso, o papel de empresas privadas e do próprio capital internacional que pode apoiar os processos internos de desenvolvimento. Aceito, também, que este capital é livre de abandonar o espaço onde opera, levando consigo os rendimentos a que tem direito e desde que cumpra condições previamente acordadas. Nesse sentido, acho legítimo que a Bombardier deixe o país a partir do momento em que não se sinta bem nele, mas entendo que é aí que um papel fundamental do Estado, que não deve permitir a destruição das suas forças produtivas e qualificadas, se deverá manifestar: a empresa sai, mas, em vez de o Estado se fechar no falacioso argumento de que se trata de algo privado, há que manter o processo de trabalho e os seus agentes desde que possam a continuar a ser socialmente úteis.
Aceito que a sociedade em que vivemos, pela intransigente defesa das liberdades que preconiza, é relativamente superior àquelas que, em tempos idos, se reivindicaram do socialismo. E que, na mesma, ao lado dos monumentais defeitos atrás listados, desabrocharam forças que poderão formar a base de algo que lhe seja superior, forças que resultam fundamentalmente da cooperação entre os agentes económicos e de que existem exemplos em Ourém.
A questão está em saber como poderemos extirpar aqueles monumentais defeitos e iniciar algo que tenha uma capacidade própria de desenvolvimento sem necessidade de empurrões e obrigações determinadas por vanguardas esclarecidas. O que também é um problema para Ourém.


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