quinta-feira, junho 02, 2005

A escrava cristã

Quinta-feira.
Dia de mercado em Ourém.
Há uns cinquenta anos, na casa do Largo de Castela, eu e a minha mãe preparamo-nos para a habitual visita à feira.
A gatinha branca e preta dorme sobre uma almofada no recanto da escada.
Há pouco, o Armindo passou por aqui de bicicleta para trocarmos cromos da bola. De uma assentada, obtive o Vasques, o Rogério e o Carlos Gomes.
Finalmente, saímos de casa, mas ainda tivemos tempo para uma visita à vizinha que prepara a mudança para o bairro dos pobres.
Descemos à Avenida, passámos ao chafariz frente ao Sabino, chegámos à praça dos carros. Frente ao Central, a bicha para comprar o Mundo de Aventuras, atingia quase a loja do Povo. Lá estavam o Abel, o Rui Costa, o Pintassilgo nos seus catorze, quinze anitos.
A nossa primeira visita é ao mercado da fruta. Depois, descemos, frente à igreja para o mercado do peixe. Lembro-me de um conjunto de bancadas em pedra, mais ou menos ao ar livre que depois foi substituído pelo mercado já descontinuado. Sabia que ia ser dia bom com carapau grelhado e tangerinas...
Alguém apregoa um folheto com os versos do Dr. Preto. Ora bolas! Não haverá ninguém em Ourém que me empreste por uns dias uma preciosidade destas? Mas naquele tempo não lhes ligava muito. Eu estava com o sentido naquilo que o meu irmão compraria no Central.
E de repente, uma voz anuncia bem alto:
- Olha a história da escrava cristã! Comprem levem para vossas casas uma história que vai derreter os vossos corações...
Contemplei embevecido aquele livrinho. Tão bonito. Tão fino, se calhar tinha ilustrações, se calhar era de continuação. Mais tarde, vim a descobri-lo neste espólio...

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