Os pais da Gracelinda ficaram tão felizes com o abandono da vida religiosa por parte dela que acabaram por concordar em não abater os dois cabritinhos e em mantê-los como animal de companhia. Ela chegava a passeá-los de trela como se de cachorros se tratassem e todos se deliciavam a vê-los aos saltinhos.
A véspera de Natal chegou e a família Marques começou a preparar os doces para a consoada. A Gracelinda estava toda entusiasmada na preparação da massa para os sonhos e preparava-se para a pôr a levedar quando, de repente, sentiram uma travagem brusca à porta de casa…
E alguém bateu à porta…
Gracelinda e mãe olharam uma para a outra com um certo receio.
- Deve ser alguém a trazer-nos filhoses…
A mãe foi abrir e ficou paralisada, estupefacta. A pequena viu-a assim e foi espreitar. Ficou gelada…
Na sua frente, estava a madre superiora, mais uma freira, acompanhadas por dois agentes da Guarda Republicana de Ourém.
- É ela! – vociferou a madre superiora – Prendam-na! Fugiu do convento e roubou-nos dois cabritos…
Os guardas avançaram, mas a mãe deteve-os.
- Parem. Ela é uma menor, não podem fazer-lhe nada…
- Minha senhora, há uma queixa contra a menina.
- O meu marido tratará de tudo…
Rapidamente, telefonou para o marido a quem expôs a situação. Mas a madre não se conformava:
- Ela esteve a comer da nossa alimentação durante quase um mês e não pagou um tostão.
- Mentira! – gritou a Gracelinda – Eu é que preparava as refeições para todas as irmãs. Nunca me pagaram um tostão. Exploravam o meu trabalho, não rezava, não conseguia ler nada. A vossa formação é uma fraude.
- Gracelinda, Deus manda que…
- Não, não. Vocês são umas cínicas, não as quero ver mais.
Pouco depois, o sr. Marques chegava a casa carregado de embrulhos e uma tábua com um leitão acabado de assar a cheirar maravilhosamente.
- Irmã Clotilde, lamento muito tudo o que se passou com a minha filha e apresento as maiores desculpas. A Gracelinda não irá mais para o convento. Para a compensar de qualquer prejuízo que ela tenha causado aqui tem um belo leitão assado pelo Guerra, dois cabritos já devidamente preparados para cozinhar e um perú da melhor criadora de Ourém. Se acha que temos de pagar alguma coisa pela estadia da Gracelinda no convento, por favor, diga…
A madre superiora ficou bastante admirada. Não esperava uma reação daquelas e a oferta era extremamente interessante.
- Além disso, tem aqui mais dois bolos rei dos melhores que se fabricam em Ourém.
- Bom – disse a religiosa – É claro que eu não queria prender a menina. Mas ela tem de ser mais educada, é tão rebelde…
E partiu, levando as ofertas, acompanhada pela outra freira e os guardas da GNR. A Gracelinda ficou toda feliz a passar o Natal com os pais e os cabritinhos. Nunca se lembrou que, para salvar aqueles dois, tinham sido abatidos quatro outros bicharocos. Mas creio que, anos mais tarde, veio a pôr em causa a sua forma de alimentação.
A véspera de Natal chegou e a família Marques começou a preparar os doces para a consoada. A Gracelinda estava toda entusiasmada na preparação da massa para os sonhos e preparava-se para a pôr a levedar quando, de repente, sentiram uma travagem brusca à porta de casa…
E alguém bateu à porta…
Gracelinda e mãe olharam uma para a outra com um certo receio.
- Deve ser alguém a trazer-nos filhoses…
A mãe foi abrir e ficou paralisada, estupefacta. A pequena viu-a assim e foi espreitar. Ficou gelada…
Na sua frente, estava a madre superiora, mais uma freira, acompanhadas por dois agentes da Guarda Republicana de Ourém.
- É ela! – vociferou a madre superiora – Prendam-na! Fugiu do convento e roubou-nos dois cabritos…
Os guardas avançaram, mas a mãe deteve-os.
- Parem. Ela é uma menor, não podem fazer-lhe nada…
- Minha senhora, há uma queixa contra a menina.
- O meu marido tratará de tudo…
Rapidamente, telefonou para o marido a quem expôs a situação. Mas a madre não se conformava:
- Ela esteve a comer da nossa alimentação durante quase um mês e não pagou um tostão.
- Mentira! – gritou a Gracelinda – Eu é que preparava as refeições para todas as irmãs. Nunca me pagaram um tostão. Exploravam o meu trabalho, não rezava, não conseguia ler nada. A vossa formação é uma fraude.
- Gracelinda, Deus manda que…
- Não, não. Vocês são umas cínicas, não as quero ver mais.
Pouco depois, o sr. Marques chegava a casa carregado de embrulhos e uma tábua com um leitão acabado de assar a cheirar maravilhosamente.
- Irmã Clotilde, lamento muito tudo o que se passou com a minha filha e apresento as maiores desculpas. A Gracelinda não irá mais para o convento. Para a compensar de qualquer prejuízo que ela tenha causado aqui tem um belo leitão assado pelo Guerra, dois cabritos já devidamente preparados para cozinhar e um perú da melhor criadora de Ourém. Se acha que temos de pagar alguma coisa pela estadia da Gracelinda no convento, por favor, diga…
A madre superiora ficou bastante admirada. Não esperava uma reação daquelas e a oferta era extremamente interessante.
- Além disso, tem aqui mais dois bolos rei dos melhores que se fabricam em Ourém.
- Bom – disse a religiosa – É claro que eu não queria prender a menina. Mas ela tem de ser mais educada, é tão rebelde…
E partiu, levando as ofertas, acompanhada pela outra freira e os guardas da GNR. A Gracelinda ficou toda feliz a passar o Natal com os pais e os cabritinhos. Nunca se lembrou que, para salvar aqueles dois, tinham sido abatidos quatro outros bicharocos. Mas creio que, anos mais tarde, veio a pôr em causa a sua forma de alimentação.
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