sábado, agosto 07, 2004

O covil dos comunas (4)
Uma literatura política e socialmente não empenhada

VGM defende que a literatura não deve ser política e socialmente empenhada. No entanto concede: "admito-a quando o autor se não pode exprimir de outra forma".
Sinto nestas palavras a passagem de um atestado de menoridade àquele tipo de literatura. "O autor não consegue exprimir-se de outra forma, logo...".
Seguindo à risca esta interpretação, pérolas que todos conhecemos como "A trova do vento que passa", "Os vampiros", "Os malteses", etc., fariam parte da literatura mas de uma literatura de menor qualidade. Boa é a abstracta a que não tem a ver com as condições reais de vida de um povo.
Estarão os meus amigos de acordo com esta visão?
Confesso que não estou. Penso que um autor tem a liberdade de se apoiar em quaisquer elementos que o seu processo de criação exija.
Efectivamente, que diferença existe entre uma estatueta de metal e a repressão que se abate sobre um povo, em momento de inspiração para a escrita? Não são ambos elementos concretos em que se baseia toda a produção do autor?
Sendo a liberdade, o combate à pobreza, a solidariedade, a partilha valores inequivocamente associados à esquerda é aceitável que, para a direita, seja difícil construir uma literatura fundamentada na temática política ou social. Já imaginaram um poema sobre a eficácia, sobre a eficiência, sobre a escassez dos recursos ou dedicado ao tio Patinhas e a outras figuras que veneram? Ninguém lhe ligava com certeza, assim fica-se pelo amor (comum à esquerda) e pelo abstracto que, como VGM demonstrou, não é tão abstracto como podemos pensar.
Esta posição de VGM tem, com certeza, a ver com as suas (legítimas) opções de classe.

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