sexta-feira, janeiro 27, 2006

A tacada


Jogava-se bilhar no Central.
Formidável partida em que Pintassilgo, Génito, Manel e Vitor Guerra se enfrentavam organizados em pares de forma a disfarçar a eventual superioridade de algum.
À volta, eu e outros distintos assistíamos àquela lição de bem jogar e tentávamos aprender para aproveitar em futuros embates.
Ao fundo, o rádio tocava uma melodia da época:
...
Lady,aaaahhhh
La-La- Lady,
Vous êtez plus que jolie,
Oh Lady!,
Que soudain
J'ai decouvert
Une autre vie...
...
O Génito pousou o cigarro na borda do bilhar, encostou o taco à parede, despiu o casaco e começou a exibir-se.
Agarrou uma cadeira, daquelas de metal que ameaçava durar mais uns quarenta anos, apoiou as mãos nas laterais, dobrou-se para a frente e, lentamente, foi erguendo as pernas aproximando-as do tecto.
Todos ficaram suspensos do que ia acontecer. O contador de tempo com indicador de montante em dívida acoplado continuou a funcionar, mas ninguém se preocupou com ele.
As pernas do Génito continuavam a subir na direcção do tecto. Por pouco não lhe acertavam, já que ele não era muito elevado. Chegaram a ficar perfeitamente a prumo.
E quando parecia que o objectivo estava cumprido eis que se ouviu monumental ruído e o conjunto corpo cadeira desfez a sua unidade, indo cada um para seu lado.
O Génito caiu pelo chão e ficou um pouco atordoado. O Adelino veio a correr, apressado, julgando que vândalos tinham invadido a sala de bilhar.
Pouco a pouco, ele recuperou. Pegou no taco, extraiu mais uma fumaça e calmamente perguntou:
- É a minha vez?

É altura de ouvir Oh Lady!

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