sexta-feira, abril 21, 2006

O NSU Prinz, carrinho do palhete




Tinha chegado das aulas para almoçar e notei que o meu irmão, estranhamente,  habitualmente tão pontual, não estava.

A minha mãe informou-me logo.

- O Abel foi a Lisboa buscar um carro que lhe saiu no sorteio dos Inválidos do Comércio.

- Um carro? Olha a sorte...

- O pai ainda lhe disse para ele trazer o dinheiro, mas ele insistiu e vem com o carro.

O resto do dia foi à espera daquele terceiro prémio que bafejou a nossa gente. Lá para a década de cinquenta uma viagem Ourém – Lisboa demorava o seu tempo, pelo que, só para o final do dia, a bela máquina chegou ao largo de Castela.

Eu imaginava uma carripana enorme e saiu-me uma miniatura quase mais pequenino que os Morris ou os Austin da época. Era um NSU Prinz, um carrinho ao que julgo alemão, cor avermelhada, e com uma chiadeira no trabalhar que fazia lembrar o choro...

Nesse dia, ainda houve tempo para testar o carro pelas estradas à volta de Ourém. O meu irmão encheu-o de amigos (o Zé Penso, o Pereira, o Félix) e lá fomos que aquilo não dava para muito mais.

Todos apreciaram aquela maravilha, mas não estavam muito de acordo:

- Agarra-se bem à estrada – dizia o Zé Penso.

Mas o Pereira tinha notado alguns pontos negativos:

- Não é carro para estas estradas...

Claro, se vocês vissem aquelas rodinhas tão finas a passar pelos buracões daquele tempo também estariam de acordo com o Pereira.

- Eu acho que dá perfeitamente – dizia o Félix – e até podemos visitar as adegas com mais frequência...

- É vermelho e tudo – respondia o Penso – faz lembrar o palhete...

Pois é, meus amigos. A fama de tal carro e a sua associação ao palhete foi de tal ordem que, ao fim de alguns anos, teve de mudar de cor. Mas a verdade é que a sua longevidade foi notável, com mais de quinze anos, ainda se deslocava perfeitamente e nunca deixou o dono apeado. Às vezes, até parecia que conhecia o caminho...


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