A banda do barracão
Alguns dias têm sido tão calmos, a quietude é tanta, apesar do calor, que temos sentido a tentação de estabelecer paralelos com a habitação na Parede.
- Com este sossego, só nos falta que a casa dos vizinhos de baixo seja habitada pelo Flautas e pela Cantora de ópera. Já imaginaste estar aqui meio adormecido e, do meio das árvores, sair a voz dela ou ouvirmos os acordes dele?
Este é um dos nossos privilégios na residência habitual: gozar das horas de treino de duas excelentes pessoas ligadas ao canto e à cultura. Algo bem desejável para aqui onde os diálogos dos tais vizinhos de baixo, em português vernáculo, não são passíveis de reprodução em blog.
Mas está estabelecido que, sempre que uso esta forma de chalaça, algo me cai em cima de um modo que me obriga a recordar dever ter mais cuidado.
A Dona Maria costumava dizer à sua netinha: “Quando eu morrer , esta casa será tua”. Na vida, as coisas quase nunca se passam como esperamos e a dita casa que tem enorme barracão acabou por ser vendida e já não é propriedade da netinha.
Na tarde de sábado, entretinha-me a pintar o gradeamento. Admirava aquele verde garrafa adquirido na loja de utilidades da Teófilo Braga, quando comecei a ouvir o som de uma bateria e uma voz:
- Um, dois…
Juntou-se-lhes um baixo e o som pareceu mais composto. Pouco depois, veio a voz em tom algo dilacerante. Não reconheci o tema. Qualquer coisa desses grupos novos que tocam mal, cantam mal e fazem a cabeça doida aos miúdos.
O ensaio durou horas. Sempre a mesma música. Comecei a lembrar-me que, um dia, também dei uma seca aos vizinhos com o Trans European Express, dos Kraftwork, desdenhosamente apelidado de Comboio lá em casa.
- Estamos tramados. Lá se foi o nosso descanso…
- Ontem, estávamos a gozar com os vizinhos e, agora, vamos ter de suportar este ruído. Qualquer dia, ainda trazem para aqui o 22…
E aqui fica a dúvida sobre como serão futuras estadias por aqui. A banda do barracão actuará à noite? Teremos sossego? São terríveis estes tempos onde a libertinagem tanto se confunde com a liberdade…
Alguns dias têm sido tão calmos, a quietude é tanta, apesar do calor, que temos sentido a tentação de estabelecer paralelos com a habitação na Parede.
- Com este sossego, só nos falta que a casa dos vizinhos de baixo seja habitada pelo Flautas e pela Cantora de ópera. Já imaginaste estar aqui meio adormecido e, do meio das árvores, sair a voz dela ou ouvirmos os acordes dele?
Este é um dos nossos privilégios na residência habitual: gozar das horas de treino de duas excelentes pessoas ligadas ao canto e à cultura. Algo bem desejável para aqui onde os diálogos dos tais vizinhos de baixo, em português vernáculo, não são passíveis de reprodução em blog.
Mas está estabelecido que, sempre que uso esta forma de chalaça, algo me cai em cima de um modo que me obriga a recordar dever ter mais cuidado.
A Dona Maria costumava dizer à sua netinha: “Quando eu morrer , esta casa será tua”. Na vida, as coisas quase nunca se passam como esperamos e a dita casa que tem enorme barracão acabou por ser vendida e já não é propriedade da netinha.
Na tarde de sábado, entretinha-me a pintar o gradeamento. Admirava aquele verde garrafa adquirido na loja de utilidades da Teófilo Braga, quando comecei a ouvir o som de uma bateria e uma voz:
- Um, dois…
Juntou-se-lhes um baixo e o som pareceu mais composto. Pouco depois, veio a voz em tom algo dilacerante. Não reconheci o tema. Qualquer coisa desses grupos novos que tocam mal, cantam mal e fazem a cabeça doida aos miúdos.
O ensaio durou horas. Sempre a mesma música. Comecei a lembrar-me que, um dia, também dei uma seca aos vizinhos com o Trans European Express, dos Kraftwork, desdenhosamente apelidado de Comboio lá em casa.
- Estamos tramados. Lá se foi o nosso descanso…
- Ontem, estávamos a gozar com os vizinhos e, agora, vamos ter de suportar este ruído. Qualquer dia, ainda trazem para aqui o 22…
E aqui fica a dúvida sobre como serão futuras estadias por aqui. A banda do barracão actuará à noite? Teremos sossego? São terríveis estes tempos onde a libertinagem tanto se confunde com a liberdade…
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