quarta-feira, janeiro 10, 2007

Poemas entrelaçados..., 5
Porta #3: A Perdição como destino

O tema “Perdição” sempre teve múltiplos motivos de aplicação em Ourém. Era a perdição pelos olhos de uma linda menina, era a perdição pela prova do palhete que acabava a cura na pipa...
Na infância, também me acompanhou: uma vez, foi-me trazido por uma castanhola que quase me tornou um marginal em relação aos bem-comportados; mas houve também uma famosa viatura, o chamado carrinho do palhete.
Ourém não perdeu esta tendência e, hoje, enquadrada por um poder autárquico que vê no falso desenvolvimento das negociatas e do favor ao capital a razão de existir, entra em definhamento imparável. Os oureenses perderam a chama, a vida, a identidade e as referências da magnífica terra que herdaram.
A Perdição, enquanto resultado da entrega ao amor, foi-nos dada a conhecer na letra de um fado que, um dia, Cristina Branco, nos trouxe:


Fado perdição

Este amor não é um rio,
tem a vastidão do mar.
E a dança verde das ondas
soluça no meu olhar.

Tentei esquecer as palavras
nunca ditas entre nós
Mas pairam sobre o silêncio,
nas margens da nossa voz.

Tentei esquecer os teus olhos,
que não sabem ler nos meus.
Mas neles nasce alvorada,
que amanhece a terra e os céus.

Tentei esquecer o teu nome
arrancá-lo ao pensamento
Mas regressa a todo o instante
entrelaçado no vento.

Tentei ver a minha imagem,
mas foi a tua que vi
no meu espelho porque trago
os olhos cheios de ti.

Este amor não é um rio
Tem abismos como o mar.
E o manto negro das ondas
cobre-me de negro o olhar.

Maria Duarte

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