quarta-feira, janeiro 08, 2020

Bombardeamento no parque

Quando o parque de Ourém, por trás da Câmara, foi inaugurado, o pessoal da minha geração começou desde logo a desfrutar dele dada a facilidade de acesso.
Recordo umas belas mesas que nos serviam lindamente para o King situadas mais ou menos a meio do parque. Recordo também outras mesas, situadas um pouco mais acima à direita que podiam ser utilizadas com a mesma funcionalidade.
Encanto dos encantos, a estradinha em terra batida que me levava de minha casa até lá permitia o convívio com uma árvore que dava ginjas que eu aproveitava para recolher e devorar.

***

Um dia, um pequeno grupo estava neste último local a reouvir os últimos discos chegados ao grupo. O Jó Rodrigues levara o gira-discos, o magnífico som ouvia-se por entre as árvores: os Who, os Fourtops, o Spencer Davies Group, os Small Faces… tudo por ali passava numa tarde…
De repente, algo diferente de música chamou a nossa atenção, um ruído brusco de algo que caiu, depois outro e logo outro…
- Que será isto?
Uma pedra caiu muito perto de nós…
Olhámos na direção de onde parecia ter partido e, a mais de 100 metros, vimos uma figura conhecida. Era uma pessoa de Ourém, pouco mais velha que nós, que vulgarmente não nos acompanhava. Não fazia parte do grupo.
- O Lélito…
Ele atirou mais umas pedras que não nos acertaram e, ao fim de algum tempo, desistiu e foi-se.
Nunca percebemos o que o moveu a fazer aquilo. Nada havia contra ele, mas efetivamente não era dos nossos. As irmãs, mais da nossa idade, também nunca se aproximaram. Sentir-se-ia excluído?
Acho que acabámos por esquecer tudo e nunca o pusemos perante a sua ação. Mas confesso que por vezes ainda tenho a sensação das pedras a passarem muito por perto…

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