segunda-feira, abril 13, 2020

Uma joia de pessoa

Em Ourém as sessões cinematográficas ocorriam à quinta-feira e ao domingo. O Melo era o grande entusiasta da divulgação cinematográfica e cumpria com entusiasmo esse seu hobby muitas vezes suportando os prejuízos quando as assistências escasseavam. Acompanhavam-no o Mário na bilheteira e o Joia como porteiro.
Um dia, o Estorietas passava junto ao velho cinema. Exibia-se o filme «Rio Bravo», um clássico do Western, um filme que ele gostaria de ver. Reparou que, à porta do cinema, estavam vários miúdos da sua idade: o Luís Nuno, o Zé Rito, o Natureza. Coisa estranha. Que fariam ali?
Resolveu aproximar-se para investigar.
Não precisou de muito tempo. Poucos minutos depois, a porta abria-se e uma voz dizia:
- Entrem, entrem…
Aproveitou a boleia e, como por encanto, encontrou-se na sala do cinema onde alguns lugares vazios convidavam a sentar-se.
O Joia sorridente, mais parecendo um chefe de escuteiros, dizia:
- Sentem-se naquela fila que não tem ninguém. Já ninguém deve vir ocupar aqueles lugares.
Agachados, ocuparam os lugares indicados pelo porteiro. Pouco depois, estavam completamente embevecidos a assistir ao desenrolar da projeção…
O Estorietas estava entusiasmado e, quando chegou a casa, justificou a chegada tardia com uma ida ao cinema.
- E quanto gastaste? – perguntou a mãe.
- Nada. O Joia deixou-nos entrar.
Claro que, a partir daquele dia, o Estorietas começou a frequentar a porta de entrada do cinema e a cena repetiu-se pelo espetáculos seguintes…
Era um coração de oiro aquele Joia.


Mas estariam todos satisfeitos?

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