quarta-feira, março 01, 2006

Uma roda que rolava pela estrada de Leiria


Uma tarde o Domingos (irmão do TóLiz, Licínio, etc.) veio ter comigo e com o Jó Rodrigues. Era relativamente mais velho, já trabalhava, ao contrário de nós eternos descansantes daquela fabulosa juventude.
- Querem vir comigo? Vou a Leiria levar um pneu...
Claro que nem olhámos para trás.
O carro do Domingos era preto, naquele formato arredondado da época. Sempre bem afinado, não fosse ele um exímio conhecedor de mecânica automóvel. O pneu já estava em cima do tejadilho e arrancámos para Leiria.
O Domingos era um bom acelera. O carro devorava a distância com grande sofreguidão. E assim passámos a Quinta da Sardinha, os Cardosos e descemos os Pousos. Eu olhava para o lado contemplando a paisagem a partir do banco de trás. Passado o largo da Igreja dos Pousos, ali, onde tudo desce, os meus olhos foram atraídos por algo que se mexia na estrada e a descia atrás de nós.
- É curioso, vem uma roda sozinha a rolar pela estrada atrás de nós...
- Uma roda? – exclamou o Domingos admirado...
Ao mesmo tempo, um carro que subia a estrada desatou a apitar para a roda. O seu condutor, excitado, fazia estranhos gestos como se quisesse afastá-la da frente.
- Passa-se qualquer coisa esquisita...
E a verdade é que a roda continuava a descer pela estrada, contornando suavemente as suas curvas, perseguindo-nos como se guiada por tele-comando. O Domingos resolveu parar e estacionar e a roda veio depositar-se suavemente no para-choques do carro.
Claro que em cima do tejadilho já não existia roda nenhuma, ela tinha-se desatado, caído para a estrada e não quis perder o seu ponto de referência.
- Ele há cada uma!...
O resto do percurso fez-se sem mais incidentes, tendo-nos este acompanhado em conversa com cervejinha no Liz Bar...

1 comentário:

Sérgio Ribeiro disse...

Outra história muito bem contada, Luís.
Fazer uma antologia vai ser difícil porque antologiar é seleccionar e seleccionar é excluir...
Um abraço

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