terça-feira, janeiro 21, 2020

O início do fim da Feira do Mês


Por vezes, o espetáculo a partir da casa do Largo de Castela era bastante animado. Se não estou em erro, regularmente, pelo dia três, realizava-se a feira do mês num largo enorme junto ao local onde depois surgiu a escola da Dona Iria, perto da prisão da GNR.
E a rua de Castela enchia-se das mais diversas espécies de animais - ovelhas, carneiros, cabritos, burros, vacas, mulas - que a desciam para se dirigirem ao largo da feira onde eram transacionados.
O ruído dos chocalhos, a mistura dos sons produzidos pelos animais e pelas pessoas que os controlavam e o seu tropel eram magníficos, dando a tudo aquilo uma sensação que de semelhante só se encontrava nos filmes do Oeste com as cavalgadas junto aos bisontes ou a manadas de gado tresmalhadas.
Eu abria a porta e via todo aquele ondulado barulhento a passar. Depois era de novo o silêncio, a rua ficava um pouco suja com excrementos do tipo azeitona e, no mês seguinte, lá se repetia a história.

Mas também este espetáculo maravilhoso um dia cessou. Vejam como o NO noticiou o princípio do fim da «feira do mês».


Vila Nova de Ourém, 20 de Agosto de 1950.
No Largo de Rodrigues Sampaio (vulgo “Feira do Mês”), no ângulo sueste, um novo edifício escolar começou há pouco tempo a erguer-se. O velho logradouro, de futebolistas incipientes, de amadores de “estrelas” e “papagaios” de papel, das ruidosas e heterogéneas feiras e mercados, vasto palco das festas de outrora, onde bandas de fama e grupos folclóricos bizarros se exibiram, vai ficar talado e como tal reduzido a proporções que dificilmente lhe permitirão voltar a desempenhar-se da função destacada que até aqui lhe cabia na vida local.
Há quem veja com desgosto a amputação do amplo recinto e que o desejasse assim mesmo, para sempre, servindo nas grandes concentrações públicas mercantis ou festivas, e, nos intervalos destas, de grande pulmão ou respiradouro; outros há, pelo contrário, que rejubilam com o desaparecimento mais ou menos próximo dos ruídos que lhes são inerentes e das excrescências e do fétido aroma que a pecuária ali despeja todas as semanas e todos os meses. Uns e outros aduzem razões a que certamente não são indiferentes os seus interesses particulares. Respeitemo-las. Quanto a nós, se bem que a localização da nova escola nos não seja de incondicional simpatia, parece-nos que devemos aceitar a sua construção como um melhoramento de vulto e merecedor portanto do nosso reconhecimento, tanto mais que o desaparecido ou reduzido nas suas proporções o popular logradouro, outros vão surgir certamente, mais belos e mais higiénicos, previstos como estão no plano urbanístico que a Câmara já começou a executar.
De lamentar apenas – e não se julgue que se trata de edifício medíocre ou desgracioso sequer – de lamentar apenas, repetimos, é que em vez de 2 ele não comporte 4 salas como parecia estar indicado para a categoria da Vila e estética local.
Para isso – façamos justiça – se bateu esforçada e insistentemente a Câmara junto de quem de direito, mas infelizmente sem resultados satisfatórios.

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