As coisas no Centro Nacional de Pensões, apesar de uma ascensão rápida, não correram bem do ponto de vista do gosto pela profissão. Ao se aperceberam que investia muito na investigação das potencialidades das linguagens, os responsáveis entenderam estar ali o indivíduo ideal para a área de sistemas e trataram de me fazer transitar para lá.
Ora, eu adorava a área de aplicações. O que gostava era idealizar sistemas de aplicações, ficheiros, rotinas de tratamento de dados e programar muito do necessário para o implementar. Comparada com isso, a área de sistemas era uma chatice em que tinha de andar atrás dos técnicos do fabricante, preocupar-me com circuitos, coisas horrorosas.
E comecei a pensar em sair, apesar de adorar os colegas com quem trabalhava.
A ocasião surgiu através de um concurso para a Carris. Esta usava um equipamento IBM com algumas afinidades com o que usava na CNP e a transição não foi difícil pois a CNP estava, na altura, uns passos à frente já com o teleprocessamento em produção.
Tornei-me um excelente ouvinte dos conselheiros que vinham daquela corporação gigantesca e só relativamente tarde me apercebi que muitos desses conselhos estavam relacionados com a sua necessidade de fazer negócio. «A máquina tem mau desempenho?», então «O melhor é fazer um upgrade ou adquirir uma máquina nova».
E, um dia, a palavra mágica surgiu: Base de Dados. Seria o fim da anarquia, o fim da redundância… os dados bem organizadinhos a servirem toda a empresa. As primeiras bases de dados foram apelidadas de hierárquicas e não trabalhei praticamente com elas. As que me entusiasmaram bastante designavam-se por relacionais e a palavra chave para o seu uso era SQL (Structured Query Language).
Adorava o SQL, tudo quis fazer com SQL. Um dia, perante a administração da Carris, eu e alguns técnicos tivemos uma conversa engraçada:
- Em SQL, é possível determinar imediatamente o impacto de um aumento de salários de 10% aos motoristas.
O administrador ficou entusiasmado:
- Olhe. E esse rapaz, o Ezequiel, ele não está para ir embora, pois não?
A evolução era tão rápida que as pessoas tinham de ignorar alguma coisa na sua profissão…
Cabe dizer que, na altura, era muito difícil a uma empresa como a Carris reter os seus técnicos de Informática. Mal sabiam alguma coisa e provavam que eram bons, a Banca e algumas empresas tratavam de os contratar com salários francamente superiores: era uma pressão sufocante para o Centro de Informática.
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