A minha vida profissional começou com um emprego de programador de computadores no Centro Nacional de Pensões. Entrei numa leva em 1973, adquiri os primeiros conhecimentos à conta do empregador e após uns testes de aptidão e executei alguns programas que, a breve trecho, demonstraram que tinha algum jeito. A linguagem utilizada estava muito perto da linguagem máquina, era um Assembler e o computador uma anedota quase sem memória que utilizava cartão perfurado (Univac 1005). Programa e dados utilizavam este suporte.
Passados uns três meses fui chamado para o serviço militar e, quando regressei, o panorama era substancialmente diferente: os programas ainda entravam em cartão, mas ficavam gravados em disco onde podiam ser editados. Os dados também podiam usar esse meio, mas já os encontrei em disco e banda magnética. Começou aí um dos meus períodos áureos na profissão um bocado exacerbado pelo momento político. Assim, quando tinha de testar os programas, tinha de fazer fichas em cartão com uma simulação dos dados e via-me obrigado a inventar nomes de beneficiários, moradas, etc. etc.
Era um martírio fazer fichas teste e o que me aliviava era escolher nomes do mundo político. Assim, ao fim de algum tempo, a diretora do Centro começou a receber queixas das operadoras de registo de dados que afirmavam que um programador andava a gozar com os políticos, pois criava fichas teste com os nomes de :«Álvaro Barreirinhas Cunhal», «Melro Antunes», «Sá Meme», «Mário Bochechas Soares», «Basilino da Horta»...
Lá fui chamado à pedra e comprometi-me a não gozar mais com os nossos queridos políticos, passando a usar nomes completamente inócuos.
A linguagem de programação, entretanto, tinha evoluído: já usava o Cobol e aquelas palavras em Inglês com um certo sentido passaram a transmitir-me muito gosto pela função. Cada programa que fazia era um desafio diferente e procurava sempre testar aspetos novos da linguagem, sendo caraterizado por muitos colegas como tendo uma «programação demasiado arrevesada». Eu diria mesmo disparatada, esse seria o termo correto, já que, revendo os programas, diria que tinham sido feitos por um louco.
Um dia, aproximavam-se as férias, e fiz um programa à pressa. Quando voltei fui envergonhado perante os colegas pois tinha estoirado com a banda dos salários. As especificações de análise não eram muito claras, mas o que eu quis foi fazer o programa, não esclareci nada e… Bum!!! Lá andaram a repor os dados do ano em salários enquanto eu me deliciava em férias. A partir daí, fui mais cuidadoso.
Cabe dizer ainda que já se discutia muito o nível das diferentes linguagens: uma linguagem de alto nível seria aquela que estaria muito perto do modo como falamos, tornando a vida do programador muito simples; pelo contrário, uma linguagem tipo Assembler, apesar de exigir muitos conhecimentos a quem a utilizava, era considerada de baixo nível.
A ilustração esclarece o que disse antes. O Assembler estava abaixo daquilo tudo. O Cobol estaria ao nível dum Fortran (Formula Translator) que também cheguei a usar e, depois, por ali acima, era tudo de uso mais fácil. Confesso que ficava danado quando me diziam que programava numa linguagem de baixo nível. Os pedantes… que nem sabiam escrever uma instrução para ler um registo de um ficheiro.
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