sexta-feira, janeiro 31, 2020

Salvos pelo cachorro

No CFL, estranhava-se a ausência da Teresinha e todas ficaram espantados quando alguém trouxe a notícia da sua detenção.
O Dr. Armando reuniu os alunos mais relacionados com ela e afirmou:
- Alunos do CFL, deem muita atenção ao que se passou que não me admira absolutamente nada. Esse Passarinho é um malandro que já fez várias partidas aqui no Colégio. Até acho bem que esteja preso. A Teresa é uma menina exemplar. Mas eu conheço o graduado e sei que ele é uma pessoa ponderada. Decerto a vai libertar dentro em breve. Eu próprio falarei com ele se a libertação se atrasar.

A Gracelinda é que não gostou nada do que ouviu. Não achava bem que miúdos tão jovens estivessem detidos na prisão. Assim, combinou rapidamente um plano com o seu Pepe…

*

Nessa tarde, vestida de freira, a Gracelinda dirigiu-se ao posto da GNR. O graduado reconheceu-a imediatamente:
- Oh! É a menina Gracelinda. Então, voltou ao convento.
- Ainda não, mas estou a ponderar fazê-lo. Vim aqui pois soube que a Teresinha está presa por uma questão fútil. Acha que posso falar com ela?
O graduado tinha as chaves da cela em cima da mesa e levantou-se para cumprimentar a jovem.
- Sabe? Contamos libertá-la dentro em breve, até já aqui tenho as chaves, mas pretendemos que lhe sirva de lição para ela não repetir o disparate de circular pela vila da maneira que fez.
Neste momento, um pequeno vulto entrou pelo posto da GNR, saltou para cima da mesa e fugiu com as chaves na boca. Não mais chegou a ser visto. O graduado ficou boquiaberto.
- O diabo do cão fugiu com as chaves…
- Está a ver? Agora como vai libertar a Teresinha e o João? Para onde terá ido o cão?
- Temos de o procurar. Que disparate eu fiz…
Rapidamente saíram do posto. A Gracelinda disse:
- Eu vou na direção da Câmara, o senhor vá pelo outro lado. Se encontrar o cão, dê um tiro para o ar para me avisar. Encontramo-nos no posto.
E partiram em busca do cão. O graduado mobilizou ainda mais dois homens que partiram em direções diferentes.
Claro que a Gracelinda sabia muito bem onde estava o seu Pepe e, daí a pouco, encontrou-o junto ao parque por trás da Câmara.
- Cãozinho lindo! És mais rápido e inteligente que o Baloo! Ele nunca faria o que fizeste…
O Pepe deu dois saltitos e entregou-lhe alegremente as chaves das celas.
- Agora, esperas aqui por mim.
Rapidamente, voltou ao posto e, ao passar pela cela da Teresinha, disse-lhe:
- Prepara-te. Penso que, em breve serás libertada…
Mas foi preciso passarem umas duas horas para  os GNR regressarem. Vinham todos com cara de caso e o graduado disse:
- Não conseguimos nada. Para onde terá ido o cão? E agora temos de chamar os bombeiros ou o ferreiro para abrirem as celas à força. Que vou dizer aos meus superiores?
A Gracelinda olhou para ele e sorriu:
- Não, não é preciso nada disso. Olhe aqui…
E mostrou-lhe as chaves das celas. O graduado ficou comovido:
- Não sabe como lhe estou agradecido, irmã Gracelinda. Que posso fazer para a compensar?
- A única coisa que pretendo é que devolva a liberdade aos meus amigos. Eles devem estar muito tristes. O desaparecimento das chaves foi uma partida que Deus quis fazer-lhe para lhe lembrar que, neste mundo, se não deve tirar a liberdade a pessoas inocentes por motivos fúteis…
Pouco depois, a Teresa e o João foram libertados e encontraram-se com o graduado e a sua amiga.
- É a ela que devem a liberdade. Agora, não façam mais disparates para não os voltar a enfiar na prisão.
O João trazia na mão o carrinho de madeira completamente montado:
- Diga ao miúdo a quem o vai oferecer que foi feito por mim, o João Passarinho. Aliás, leva as minhas iniciais: "JP".
No Avenida, foi uma alegria o reencontro com os amigos. Entretanto, no posto da GNR, o graduado via passar frente ao mesmo a Gracelinda acompanhada de um cãozito que se deslocava rapidamente.
- Coisa esquisita! Dir-se-ia que já vi aquele vulto noutra ocasião… 




FIM



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