Rústica
É o fim da tarde. No vapor dourado
Que ourela e frange as nuvens do ocidente,
Todo se envolve o laranjal. Pesado
Chia um carro de bois morosamente.
Súbito, range a rústica porteira
Num som ríspido, escancara, se abrindo;
Voam no espaço nuvens de poeira
E o gado investe p’ra o curral, mugindo...
Crianças brincam lépidas, saltando,
Numa alegria tréfega e radiosa;
E num concerto misterioso e brando
Soa de noite a voz misteriosa...
Frémito de azas trémulo e macio
Pelo arvoredo, vagos sons, rumores
De entrechocadas folhas... e erradio;
Por toda a parte, o hálito das flores.
Em ranchos desce a gente da lavoura,
De enchada ao ombro, contornando a serra;
E, languida, no céu, formosa e loura,
Vénus, o olhar pacífico descerra.
Zalina Rolim
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