domingo, julho 03, 2005

A semente do mal

Há dias, tive um pesadelo. Para o bem e para o mal, não posso deixar de o partilhar com os meus amigos...

Sonhei com uma lucubração estatística que conseguia levar tudo à mesma unidade, comparando a situação em 1960 com a situação em 2000 para cinco elementos fundamentais: culto, restauração, comércio, serviços de alojamento e especulação. Admiti que faziam um todo e tentei medir a contribuição de cada um para esse todo...

Que dizer do culto? Com certeza que em 1960 era extremamente importante, talvez o elemento mais importante dessa cidade, claramente dominante, atribuamos-lhe, numa escala de 0 a 100 o valor de 65.

E a restauração? Na década de 60, haveria alguns locais, umas tasquinhas, talvez 5%.

Quanto ao tradicional comércio, também não seria excessivo, admitamos 15%.

A produção de serviços de alojamento estaria entre os dois valores: 10%.

Finalmente, a especulação: já existia, um terreno nessa cidade custava bem mais do que em Ourém, mas não era muito significativa: 5% .

O desenvolvimento veio a modificar este equilíbrio. A cidade, de bonita, transformou-se num trambolho onde o cheiro a frango assado, misturado com o gasóleo queimado dos autocarros que em plena rua põem os motores em funcionamento para os seus passageiros desfrutarem de ar fresco quando a ele regressarem, mais o esburacado criminoso do arvoredo que rodeava o santuário bem patente nas clareiras, mais o ruído associado a manifestações que têm a ver com tudo menos com a religião evidencia brutal degradação do ambiente. Mas podemos ir mais longe: quantas habitações lá existem à espera de revalorização?

Dirão: mas existem mais e melhores serviços de hotelaria e alojamento. Sem dúvida, é uma realidade indesmentível, aí está um activo valioso para o desenvolvimento.

Apesar de tudo, a especulação teve um incremento notável. À custa de um pequeno cochicho, fazem-se negociatas de milhares de euros. Isto não é criação de riqueza, é um facto económico, mas em nada beneficia o concelho e o país. A partir deste exercício de constatação tentemos uma medição nos moldes anteriores.

A especulação será muito mais importante, digamos 15%.

A produção de serviços de alojamento cresceu muito e terá ultrapassado ou igualado
o comércio (20%, para ambos).

A restauração também cresceu e melhorou: 10%

Que resta para o culto? É importante, mas um valor bem inferior ao de 60: 35%.

Façamos as contas: qual foi a alteração sentida em cada um dos elementos considerados?

Representemos graficamente os resultados a que chegamos e que, recordamos, são resultado do meu pesadelo:


Mudanças no longo prazo Posted by Picasa

Acordei e, rapidamente, descobri que tudo era um disparate. Efectivamente, em Fátima, não há sinal de especulação operada com terrenos e imóveis. Não existem monumentais mamarrachos, desocupados, à espera de revalorização. Estava enganado, a semente do mal não concorre com a palavra de Deus.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sinceramente, não percebo a fixação constante em torno do culto de Fátima como factor de desenvolvimento da cidade e da freguesia.

1. Quanto à restauração e à hotelaria estamos compreendidos. Mas o seu aumento significativo não é uma consequência do principal foco de actracção de Fátima? E qual é esse foco de atracção, não será o culto? Uns são consequência directa do primeiro.

2. Existem lacunas nos factores de desenvolvimento em 2000 que não existiam ou eram desprezaveis em 1960. Tal como a fixação de empresas de serviços e alguma indústria, que me parece que actualmente têm já algum peso. Existe também um efeito de aumento populacional na freguesia, principalmente durante a década de 90.

3. Até que enfim, encontro alguém a escrever preto no branco sobre a especulação em Fátima. E exactamente aí que esta o câncro do ordenamento da freguesia. Mas, infelizmente é um mal de todo o país. Vejamos o Algarve, Parque Expo (inacreditavel o que se tem feito neste local em Lisboa), Sintra-Cascais, Costa Alentejana, S. Martinho do Porto, Nazaré, etc.
Salva-se felizmente parte do Alentejo Interior, Beira Baixa/Alta, e Trás-os-montes. Porquê? Porque felizmente há poucas pessoas que preferem passar férias nestas zonas como eu. Pouco turistico e onde se encontram alguns locais paradisíacos (o Norte e Este do concelho de Ourém também têm locais de elevado potencial). Portanto a responsabilidade é repartida por autarcas de todos os partidos (PS, PSD, CDU). E que o mal é nacional, um dos sectores fortes do desenvolvimento em Portugal (desenvolvimento insustentável) é o mercado imobiliario/construção civil, e que é suportado pelo governo central, autarquias e pela banca (grupo económico poderoso, que não ganha pouco com a especulação). E por isso que sou bastante crítico, a autarcas partidários que não apresentem preto no branco os seus objectivos. Pois como posso eu confiar neles? Ao irem para a câmara não farão o mesmo? Os "lobbies" são poderosíssimos e facilmente corrompem.

4. Quanto dinheiro a câmara não recebe devido a essa especulação em Fátima? E o orçamento camarário é para todo o concelho. E na minha sincera opinião não me parece como afirma o comunicado da CDU que "Ourém é uma coutada de Fátima", o problema é outro, e não são os de lá que mandam!

5. Em conclusão, o problema é nacional e não local e enquanto não alterarem a lei do financiamento das autarquias nada se resolve! Quando vir alguém a defender este ponto, terá desde logo o meu apoio.

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