quarta-feira, junho 09, 2004

A mudança


Já não me lembro em que ano mudei para a casa da Rua Santa Teresinha.
Mas sei que fui actor nessa cena.
E revejo-me a descer do largo de Castela para a Avenida. Levo um saco grande na mão, talvez com um metro de altura e uns trinta centímetros de diâmetro. É castanho, feito de uma matéria que me parece linhaça, mas que a minha santa ignorância não consegue caracterizar. Lá dentro sente-se que algo mexe. É a minha gatinha de cor branca e preta, vai dentro do saco para não reconhecer o caminho e não ter tentações de voltar à origem.
Atravesso a Avenida e viro à esquerda, frente ao edifício do cine-teatro viro à direita e inicio a descida. Passo em frente à casa onde conheci distinto oureense que há uns dois anos me ofertou saboroso arroz de cabidela na Gondemaria. Um pouco mais abaixo, frente à morgue, acelero o passo, sempre que ali passava tinha receio que algum defunto me perseguisse. Num instante chego à estrada, passo frente à alfaiataria do Zé Canoa e inicio o pequeno morro que me leva à nova casinha.
Ali, faço as apresentações à gatinha. Vê o quintal, vê os quartos, enfim tudo parece em ordem, a adaptação parece não trazer problemas.
Passa um ou dois dias. Oiço a minha mãe: Luís, não sei da gata...
Foi o desespero. E se ela era engraçada e brincalhona.
Mas eis que chega a salvação. Alguém da rua de Castela traz a notícia. Sabem, a V. gata não sai de ao pé da antiga casa.
É verdade, apesar da nossa tentativa, o bicho tinha conseguido reconhecer o caminho e voltar. Com maiores cuidados, fomos buscá-la e, como o sítio para onde mudámos, era idílico, ela acabou por se adaptar.
Foram precisos muitos anos para distinto oureense compreender, aceitar e acabar por sentir esta fixação na casa do Largo de Castela.

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