terça-feira, maio 25, 2004

Blogs d’Ourém
Comecemos, naturalmente, com uma recordação. Uma das primeiras vezes que terei ouvido essa magnífica música denominada Pedra Filosofal, interpretada pelo Manuel Freire, terá sido há uns trinta e cinco anos no programa Zip-Zip. Na altura, dezenas de jovens procuravam esse programa para, acompanhados por uma viola, apresentarem as suas canções ou versões de canções conhecidas. Lembro-me que, para além do Manuel, também lá esteve aquele magnífico vocalista dos Corsários de Apolo, de Leiria, o João Antunes, que teve a infelicidade de desaparecer na guerra colonial. O movimento foi tão forte que os seus participantes eram por vezes desdenhosamente referidos como baladeiros independentemente da sua qualidade e sem que eu atribua, neste momento, qualquer conotação pejorativa a este termo. Mas o que interessa aqui é que havia uma pergunta sacramental que a equipa Solnado-Cruz-Fialho-Martins deixava: "porque é que fazes isto?" E a resposta, apesar de clara, também nada tinha de inovador: "para comunicar...".
A verdade, meus amigos, é que os objectivos deste blog não ultrapassam essa simplicidade terminológica. Ourém é, como já escrevi, uma ferida aberta por uma separação inesperada que terá deixado coisas por dizer e por fazer. Ourém é, também, inquietação e desassossego: a cada momento que passa eu penso o que é que eles andarão hoje a destruir? E é esta associação entre o que em determinado momento teria feito para me reaproximar de Ourém e o desespero perante a prática fria de quem constroi destruindo o passado que justifica a minha atitude. Que fique bem claro: eu não sou contra o desenvolvimento de Ourém. Bem pelo contrário, pretendo que esse desenvolvimento seja forte e rápido e tenha um forte apoio em todas as camadas sociais e etárias.
Encontrei na tecnologia e nas facilidades associadas aos blogs um dos meios para me possibilitar a acção. Com efeito, optando por elas, não fico dependente das opiniões de um editor, não tenho que me dirigir a um jornal pedindo uma publicação e sujeitando-me a alguns entraves. Tenho liberdade de publicação. Não é que isso não aconteça com a imprensa de Ourém: entre 1972 e 1975 escrevi o que quis em qualquer dos jornais. Mas é diferente, não há datas, não há limitações para além daquelas que a minha consciência e o meu civismo me ditarem. Posso escrever um texto grande ou pequeno, posso criar e formatar o meu jornal como muito bem me apetecer. Há, no entanto, alguns riscos: o jornal tradicional tem logo um conjunto de dois ou três mil leitores a quem chega, este humilde blog ao princípio só é lido por quem o cria e é relativamente demorado até ser captado pelos diversos motores de pesquisa. Mas nem este aspecto me preocupou muito: é muito mais importante para mim dizer o que digo e deixá-lo registado do que ter acesso imediatamente a outras pessoas através de uma forma tradicional. É que o jornal desaparece e, naturalmente, esquece, o conteúdo do blog não: o que escrevi há um ano está aqui imediatamente e sempre disponível.
Há uns anos, quando tomei contacto com as potencialidades da Internet, logo pensei em criar uma página sobre Ourém. Custava-me a engolir que a minha colaboração com a imprensa local, há uns trinta anos, estivesse a ser, ou já tivesse sido, devorada por roedores e sentia que havia algo mais a dizer relacionado com algumas coisas de que gostava muito em Ourém e que sentia ameaçadas ou nem por isso. Idealizava páginas sobre o assunto, mas esbarrava sempre na questão do servidor. O blog tem este obstáculo resolvido. Eu escrevo, publico quando quero e, pelo menos até à data, tudo é à borla com a ferramenta que utilizo. Posso ainda simular e comemorar datas históricas como o acompanhamento que fiz este ano do aproximar do 25 de Abril, dando a ilusão de uma reprodução da situação.
Terceiro e último aspecto da questão: e como vai ser no futuro? Confesso que não sei. O tema a nossa Ourém esgota-se, esgota-se porque há outras coisas que podem ser importantes, mas não são a minha Ourém e isto tem que corresponder ao projecto para que foi criado. Assim quando os temas acabarem, só há uma solução: conscientemente, terminar e não deixar andar por aqui uma lengalenga saudosista a arrastar-se. Mas, mesmo nessas circunstâncias, existirá aí uma monumental vantagem do blog: o escrito aqui ficará sempre acessível através do seu endereço e cada post será susceptível de comentários pelos amigos de Ourém ou por essa magnífica malta que me foi dado conhecer no Sábado do encontro dos blogs.

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