Numa sociedade marcada pela desigualdade social, é natural a existência de um espaço nobre para as elites. E, no Central, um café bem mais popular que o Avenida, também existia o cantinho dos doutores.
Situava-se numa reentrância do balcão, talvez com uns 50 centímetros de profundidade e uma extensão de pouco mais de um metro, a suficiente para colocar umas três cadeiras destinadas aos Dr. Armando, Dr. Nini e Dr. Oliveira.
Imagine-se o que era passar por ali com as três personagens apontadas ao corredor para o bilhar mesmo à sua frente. O mais fácil era passar sem olhar, “evitando” saber quem lá estava e tentando não ser visto.
O Dr. Nini e o Dr. Oliveira eram bastante afáveis, mas...
***
Claro que fiquei sentido com a pessoa. E um dia tive de passar à frente do “cantinho dos doutores”. Executei o procedimento de aceleração e fui por ali fora, tentando não ver nada. Já tinha percorrido uns três metros quando senti uma mão cair-me em cima…
Era ele…
Afastou-me dos outros doutores, mais para junto da máquina do café, e encarou-me.
- Olha, já me desculpaste não é verdade?
Claro que só uma grande pessoa faria aquilo. E a despedida foi com um aperto de mão e um sorriso na chegada à sala de bilhar.
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