quinta-feira, novembro 23, 2006

Direito de pernada

Branca Flor caiu nas garras de Orelhas Moucas.
Na sequência do acidente que enviou a nossa heroína para o hospital, Orelhas Moucas foi visitá-la e insinuou-se na simpática família da menina. Não tardou muito, estavam a pedir-lhe que contratasse Branca Flor para a Câmara, uma vez que já tinha concluído o quinto ano dos liceus, mas ele teve receio que ela fizesse a cabeça doida a todos aqueles homens que enchiam o local de trabalho e acabou por lhe dar emprego numa lojeca de santos em Fátima perto do posto de turismo e da farmácia.
Branca Flor não era a única menina ali colocada naquelas circunstâncias e, a breve trecho, apercebeu-se que ele servia-se da qualidade de patrão para lhes extrair favores sexuais. Tantas vezes ela ficou envergonhada enquanto ouvia os grunhidos e gemidos de Jaquina da Purificação na lojeca ao lado quando ela fingia atingir o orgasmo com o improvisado mas irrepreensível senhor.
Colabou, é certo, mas permaneceu sempre fria e hirta enquanto Orelhas Moucas se servia dela. No final sentia-se suja, enojada, mas pensava: “quando o lobo chega, é tarde para gritar ordens e conselhos...”.
Ironicamente, nesse mesmo local veio a conhecer o amor da sua vida.
Gandolfo Paixão, um jovem oureense, encantou-se de Branca Flor num momento em que arranjara um emprego em Fátima e, a partir de então, a felicidade do par de pombinhos foi inexcedível.
Mas está escrito que à maior felicidade pode estar associada a maior desgraça. Orelhas Moucas não quis sair da vida da menina.
Um dia, Gandolfo assistiu ao seu encontro e não quis ser vértice naquele malvado triângulo. Branca Flor ficou abandonada na solidão do banco de jardim em frente ao edifício da Loja do Povo, sei lá, talvez a uns trinta metros do café Central.

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