terça-feira, novembro 21, 2006

Oh! O rapaz vai nu...



Um dia, a rapaziada decidiu ir tomar banho para o rio. Branca Flor assistiu aos preparativos de qualquer coisa embora não conseguisse perceber o quê.
Resolveu segui-los...
Sairam de Ourém e ali, na Corredoura, viraram à esquerda, aproximando-se da ponte.
Faziam quase sempre aquele percurso, depois saiam da estrada e subiam ou desciam ao longo do rio conforme lhes desse.
No rio, uma miúda tentava apanhar peixe com um cesto, mexendo-se desalmadamente de um lado para o outro.
- É a fulaninha dos Castelos. Anda quase sempre ali, depois vai vender o peixe para o mercado. Não fala a ninguém, é uma importante...
Continuaram na direcção da Melroeira, sem saberem que Branca Flor os seguia. A certa altura pararam e Branca Flor escondeu-se atrás de uma árvore para os ver. Deliciou-se a vê-los despir e, quando se atiraram à agua, apreciou o seu porte ainda relativamente juvenil.
“Nem sabem o que os espera”.
Enquanto se divertiam na água, ela aproximou-se sorrateiramente das roupas e fugiu com elas na direcção de Ourém.
Pelo caminho aproximava o nariz daquelas roupas cujo cheiro contrastava com o perfume suave e natural do seu corpo. Menina adolescente, isso provocava-lhe sensações contraditórias.
“Homem másculo de Ourém cheira a cavalo ou cabresto...” – pensava.
Imaginam os meus amigos como os miúdos oureenses se sentiram quando viram que lhes tinham roubado as roupas e se aperceberam que tinham de regressar em pelo até casa. Voltaram à ponte, daí passaram para o outro lado e caminharam tentando esconder-se entre as árvores.
Duma janela, a tia Alice chegou a dizer:
- Oh! O rapaz vai nu...
Ninguém lhe ligou, pensaram que era um caso de senilidade, mas a verdade é que a travessia do largo da igreja e o regresso a casa daqueles meninos, perante o espanto dos frequentadores do Central e dos que atravessavam a avenida, foi nas condições descritas. Mais descansados ficaram quando, à porta de casa, depararam com as suas roupas cuidadosamente dobradas.
A partir de então, aquela ponte por onde passaram ficou conhecida como “A ponte dos desnudados”.

2 comentários:

Unknown disse...

E só por uma questão de decoro não ficou conhecida por "Ponte dos Pendiricos Dependurados"

Anónimo disse...

Deve ter ficado rica, essa tal fulaninha dos castelos, com a venda do peixe, tão graúdo... do ribeiro.
Alvíssaras, para quem descobrir quem era.
écse

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