sexta-feira, maio 14, 2004

Uma história de amor


Existem múltiplas razões para desejar que esta simpática construção se mantenha.
Dirão os meus amigos oureenses: lá vem ele com aquela saudade da juventude que já tresanda a bafio.
Não, meus amigos, mais uma vez, eu julgo que tenho razão.
Se bem me lembro era perto daquele local que noutros tempos tinha lugar a feira nova, conhecida oficialmente por feira de Santa Iria, mais ou menos entre os dias 25 de Outubro e Dia de Todos os Santos. O carrossel, com as suas girafas, cavalinhos e bancos, ficava mesmo colado à tesouraria da Câmara. Os automóveis de choque espalhavam-se a partir daí até ao posto da GNR. Mais abaixo, havia espaço para vendas típicas da ocasião e, no local onde surgiram aquelas habitações viradas para o jardim (e que eu tenho a sensação que não estão ali nada bem) o espaço era repartido por aviões, poço da morte, circo e povo. E por todo o lado surgiam charlatões a apregoar e vender os mais diversos produtos e serviços: E não leva só os cobertores, leva também este magnífico balde de plástico...
Ainda me recordo de como, no Domingo e na Quinta-feira, Ourém se enchia de gente que eu não fazia a menor ideia que existia. Pessoal de bicicleta e carroça. Gente com o guarda-chuva às costas, enfiado sobre a gola do casaco.
E lá em cima o depósito tudo vigiava bem atento.
Imaginemos um desses dias de festa. O carrossel anda as voltas carregado de miudagem. Os cobradores entram e saem enquanto a sua música anima o ambiente. Ouve-se o Poetry emotion, mas ao mesmo tempo nos carrinhos de choque dá o I only want to be with you. O pessoal anda animadíssimo de um lado para o outro. As detonações dos que se divertem a testar o músculo com aquele carro pesadíssimo por vezes introduzem uma nota mais assustadora.
O dinheiro da juventude não era muito pelo que as diversões em termos gerais eram fundamentalmente duas: andar no carrossel, carrinhos de choque ou outro e ver quem andava no carrossel, carrinhos de choque, ou outro...
E foi num desses exercícios de contemplação que demos pela coisa. De repente, a música deixa de ser a que era e ouve-se a voz de Justin Hayword: Nights in white satin, never reaching the end, letters I’ve written, never meaning to send... Yes, I love You...
Um distinto oureense, senhor de excelente figura e muita lata, acaba de cair nas boas graças de uma linda menina com a qual vai passear nos carrinhos de choque. E foram dias e dias a apreciar esta história. Ela era linda de morrer, ele fez inveja a todos os que os viram.
O tempo passou, pouco ou nada sei deles, mas sei que aquele velho depósito registou esta história toda, porque nem por um minuto dali saiu. Por isso, não deve ser abatido.

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...