segunda-feira, maio 10, 2004

Dar a Cara

Constituí a minha biblioteca de textos de Marx e Engels fundamentalmente entre os anos de 1968 a 1972. Tudo começou em Económicas com a luta estudantil, o surgimento dos primeiros textos subversivos editados pela Associação de Estudantes como o Contra a Fábrica ou outros deixados pelos corredores com a imagem de Marx a indicarem algo sobre o conteúdo.
Pouco a pouco, fui conhecendo lugares onde podia descobrir as obras básicas do Marxismo, subtilmente expostas: o cantinho da Barata, a Portugal, a Sá da Costa, a Livrelco... Os anos ajudaram a sobrepor essas leituras àquelas que fazia antes e que se baseavam dominantemente em banda desenhada e nos textos de livros que as elites diziam ser de má qualidade e de que guardei alguns exemplares bem saborosos.
Em minha casa, tenho toda uma série de recordações desses tempos, dessas leituras. Mas isto faz-me voltar a outros que considerava monumentais secas e era obrigado a ler quando estudava, como os Lusíadas, ou os de Júlio Dinis, apesar de sempre sentir um fraquinho pela prosa de Camilo, especialmente depois de ver, no cine teatro de Ourém, o Amor de Perdição ou de deparar com introduções como esta: era tão linda a Rosa do Adro....
E recordo os esforços monumentais de um professor, o Dr. Laranjeira, para nós entrarmos nestas obras, o que o levava a distribuir as personagens pelos alunos dando, desde logo, um outro interesse, uma outra vida, à leitura, como naquela obra de Garret que atinge o máximo da emoção no momento em que aquele que regressa, sem ninguém o reconhecer, é submetido à tão conhecida questão:
- Quem és tu, romeiro?
E eu, apontando aquele figura difusa que ostenta um jaquetão em tudo semelhante aos que terão sido usado pelo Jó Rodrigues, pelo Zé Manel e pelo Rui Temido, que mostra uma magreza sem limites ao ponto de o seu pescoço ser substituído por uma chaveta, mas hoje já transportando mais uns trinta quilinhos em cima, que encontra em Marx os fundamentos da interpretação que faz do social e de uma concepção que procura mais justiça, mais verdade e eliminar a exploraçãoe a corrupção, mas que também se revê nas maravilhosas aventuras daquela figura galante, criada por Salinas, que cortejou a Lucy, a Silvia e a Flor Vermelha, ou daquela outra, cujo autor foi Raymond, e que viajou pelo planeta Mongo onde resistiu à rainha Fria e consumou o seu amor pela Dale, respondia:
- Aquele....

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