sexta-feira, novembro 24, 2006

O estigma Orelhas Moucas

Branca Flor foi violada, açoitada, usada, enxovalhada, amaldiçoada e assassinada naquela terra.
É certo que amou e foi amada com toda a veracidade que essas palavras podem transportar em qualquer local da nossa sociedade.
Mas não conseguiu perdoar àquela gente. Um dia, antes de encontrar o grande amor da sua vida, ela produziu uma maldição dirigida ao miserável Orelhas Moucas. O uivo de loba apoderou-se do vento, enormas pedras sairam dos seculares buracos onde descansavam, as árvores libertaram as suas raízes da terra, a água desatou a correr, a encosta dos moinhos por trás da Câmara começou a vir por ali abaixo.
De repente, ela teve a noção de que aqueles não eram os únicos culpados do seu infortúnio. E a gente mesquinha de Ourém que os apoiava e que, no fundo, na sua falsa moralidade, a condenava? Ela bem via o seu ar falsamente púdico quando iam aos domingos à igreja pedir perdão dos pecados que tinham feito durante toda a semana. Não mereceriam castigo?
- Pára!!! - exclamou Branca Flor extraindo mais um pelo de gato preto quando assanhado - Que mais Orelhas Moucas assolem esta gente nos próximos cem anos. Que os seus anseios sejam sempre espezinhados. Que o seu património e a sua cultura sejam destruídos a favor dos interesses dos ricos. Que os que de entre os mais humildes têm alguma coisa disso sejam despojados em falsas realizações de interesse público...
Como por encanto a enxorrada parou, ainda envolvendo o edifício onde Orelhas Moucas permanecia aterrorizado com o ruído. O povo pensou tratar-se de algum castigo divino, mas desligou do assunto interessado que não estava em lhe dar castigo terreno.
E a maldição de Branca Flor parece não querer largar os oureenses...

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