Naquele tempo, Cavaco Silva era um rapazinho que ensinava Finanças no ISCEF. Era acompanhado, nas práticas, por uma jovem de nome Manuela Ferreira Leite e a opinião geral era a de que a disciplina era um cadeirão em que exigiam que se soubesse localizar no Orçamento de Estado as rubricas mais estranhas. Apesar de tudo, a sua juventude tornava-os simpáticos num mundo muito cinzento.
Acima deles, assistentes da disciplina, havia o patrono da cadeira, o catedrático Alves Martins de quem se contava um episódio curioso.
Dizia ele, nas suas brilhantes aulas:
- Há tempos estive numa conferência. Só sábios éramos 11, a minha modéstia não me permite mencionar qual o maior de todos eles…
Com sábios destes como havia a disciplina de correr mal?
Ai Ourém que me estás tão longe!...
Dizia ele, nas suas brilhantes aulas:
- Há tempos estive numa conferência. Só sábios éramos 11, a minha modéstia não me permite mencionar qual o maior de todos eles…
Com sábios destes como havia a disciplina de correr mal?
Ai Ourém que me estás tão longe!...
***
E um dia Cavaco teve o seu primeiro cagaço a sério.
Estava-se numa daquelas aulas teóricas a que assistia o curso todo, mais de 100 mânfios enfiados numa sala, alguns quase pendurados no tecto em posição de morcego. E Cavaco explicava os benefícios de um Orçamento para um desenvolvimento harmonioso da Nação.
De súbito, ouviu-se uma voz que se sobrepôs à do professor:
- O sr. Doutor dá-me licença?
- O sr. é um contestatário, diga-me o seu nome, vou apresentar queixa à escola.
Um enorme sururu fez-se então ouvir. Cavaco ia tendo um fanico e retirou-se apressado. A partir daquele dia, a figura daquele barbaças passou a inundar a grande maioria das aulas. Alguns tratavam-no por Mestre. Mas o seu nome era Graça, Eduardo Graça, se não me engana a memória porque me parecem Eduardos a mais.
Estava-se numa daquelas aulas teóricas a que assistia o curso todo, mais de 100 mânfios enfiados numa sala, alguns quase pendurados no tecto em posição de morcego. E Cavaco explicava os benefícios de um Orçamento para um desenvolvimento harmonioso da Nação.
De súbito, ouviu-se uma voz que se sobrepôs à do professor:
- O sr. Doutor dá-me licença?
Olhámos todos naquela direção. Um barbaças, mais barbaças que o Marx, com o braço no ar e apontando, parecia querer dizer qualquer coisa.
A seu lado, com ar de Ciganito, um estudante que hoje todos conhecemos numa prestigiada posição pública(Eduardo Ferro Rodrigues).
Do outro lado, um dos dirigentes mais dotados que o ISCEF conheceu (Félix Ribeiro), um tipo miudinho de bigode mas de clarividência notável.
Mas foi o barbaças que retomou a palavra:
- O que o senhor está a dizer só serve os capitalistas, não serve o povo… É preciso fazer um orçamento que sirva o povo e abale o poder dos exploradores.- O sr. é um contestatário, diga-me o seu nome, vou apresentar queixa à escola.
Um enorme sururu fez-se então ouvir. Cavaco ia tendo um fanico e retirou-se apressado. A partir daquele dia, a figura daquele barbaças passou a inundar a grande maioria das aulas. Alguns tratavam-no por Mestre. Mas o seu nome era Graça, Eduardo Graça, se não me engana a memória porque me parecem Eduardos a mais.
… e, de vez em quando, lá vem o malvado sonho: ainda me falta uma cadeira para acabar o curso…
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