quarta-feira, março 18, 2020

A corda no pescoço do devedor

Em casa do Estorietas, reinava uma certa agitação. Tinha chegado uma carta do CFL a anunciar a visita da representante de uma empresa financeira com o objetivo de regularizar as mensalidades em dívida.
O pai do Estorietas já tinha feito todas as ameaças possíveis:
- Vou buscar a minha espingarda e corro logo com esses abutres.
- Pai, tenha calma – dizia o irmão do Estorietas – A carta afirma que procuram uma solução. Vai ver que tudo se resolve.
- Resolve, resolve… ele vai trabalhar para a oficina e deixa de andar em colégios de mariquinhas.
E ali estiveram a fumar esperando a visita da enviada da empresa. Pouco depois, bateram à porta e a jovem financeira entrou e sentou-se no lugar destinado.
- Senhor Vieira, estão em causa 3000$00 que o ano passado devia ter pago ao CFL e o senhor não o fez.
- Como queria que o fizesse? Os meus clientes também não me pagam…
Ela sorriu.
- Isto parece uma economia em que ninguém paga a ninguém.
- Devem-me dezenas de contos de arranjos em automóveis. Tenho de pagar o material e, no final, não consigo cobrar. Como quer que pague uma mensalidade tão alta?
- Acha alta a mensalidade do colégio?
- Muito. Em dois anos quase passaram para o dobro. Antes aguentava e agora não…
- Quer dizer que, se passasse para uma mensalidade que fosse metade da anterior, o senhor teria capacidade de pagamento?
- Sem dúvida. Metade já conseguiria pagar.
-Tenho uma proposta para si.
O senhor Vieira abriu os olhos cheios de esperança. No fundo, não queria que o filho deixasse de estudar e uma mensalidade mais suave tornaria tudo mais viável.
- Sim. Tenho uma proposta – repetiu ela. – Eu proponho-lhe uma mensalidade de 125$00 para um período de dez anos acrescida de 1500$00 para satisfazer a dívida atual e, em contrapartida, garanto a satisfação da dívida atual e a frequência do CFL sem qualquer pagamento durante este ano e o próximo.
- Quer dizer que a mensalidade passará para metade… mas durante dez anos… E se ele quiser continuar a estudar?
- No final destes dois anos reanalisaremos a situação e com certeza não haverá interrupção nos estudos. Os senhores têm bens?
- Bens?...
- Sim, imóveis, fazendas, automóveis, jóias, coisas com valor…?
- Tenho umas fazendas, uma oficina, um carro com certa idade.
- Então podemos usar esses bens como garantia do nosso empréstimo. Vou redigir um documento para estabelecermos um acordo e oportunamente estarei cá para o assinarmos…
Despediu-se e saiu toda sorridente deixando aquela família um pouco perplexa.
- É um alívio o desaparecimento dessa dívida, mas… dez anos…
A mãe do Estorietas apareceu:
- Era muito bonita essa menina. Trouxe alguma coisa de bom?
- Nem sabemos. Tenho a impressão que nos está a pôr a corda ao pescoço para os próximos dez anos…

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