O regresso para a habitual feira
El Cisco e Juanico, el Panchito chegaram a Ourém com o objetivo de participar na famosa feira anual. El Cisco pensava em Lucy e Flor Vermelha. Cada vez mais sentia a necessidade da sua presença e da sua companhia. Já Juanico só pensava em comidinha, no magnífico borrego do Bengala e nos cozinhados de Dona Estefânia. El Cisco trazia um ar de sonhador, Juanico parecia esfomeado…
- Juanico, cada vez sinto mais a falta daquelas miúdas. Qualquer dia, tenho de abandonar esta vida de aventuras…
El Panchito sentiu-se arrepiado.
- Não faças isso, el Cisco. Que faria eu sem a tua companhia? Como me comportaria em novas aventuras?
- Juanico, tudo muda com o tempo. És uma pessoa agradável, mas elas são mais doces. Depois, só pensas em comida, de noite fazes tremendo barulho a roncar, ninguém consegue descansar ao pé de ti.
- Pareces um fanático a falar. Já estou a ver-te no altar com elas pela mão e a abandonar esta doce vida…
Chegaram junto à praça principal onde se distinguia o Café Central e el Cisco apontou um cartaz:
- Olha, vai haver um concurso de tiros e uma corrida de cavalos. Vou inscrever-me em ambas. Pode ser que ganhemos alguns prémios.
- Agora, sim, estou a gostar de te ouvir falar. Voltas a ser o mesmo, el gran Cisco Kid…
Pouco depois, el Cisco e Juanico inscreviam-se nas provas as quais iram ter lugar na manhã seguinte no local que se designava por Feira do Mês.
Ensaio sobre a rapidez
Nessa mesma tarde, el Cisco e Juanito, el Panchito não deixaram de fazer a tradicional visita ao Café Central. Juanico estava louco para comer umas ameijoas à bulhão pato e el Cisco rememorava tempos antigos naquela sala.
- Ali, foi onde Pancho Villa, teu tetravô, deu vários tiros para o tecto para afugentar inimigos perigosos. O sr. Joaquim Espada nunca quis apagar as marcas.
-Oh! Não me desvies a atenção deste petisco…
E el Panchito comia com toda a voracidade.
Foi nessa altura que el Nuno Ribeirovsky se aproximou da mesa e disse para el Cisco.
- Meu caro, sei que é das pessoas mais rápidas que algum dia passou por esta terra. Com certeza, amanhã será o vencedor do torneio de tiro e estará aqui, mais uma vez, para o comemorar. Atrevo-me a deixar-lhe um desafio, eu que sou um dos maiores fornecedores de literatura jornaleira da nossa terra. Quem escreveu e onde foram escritas estas palavras:
“Se não incentivas nem alimentas o que em ti é lento, ficas rápido. A rapidez é resultado da desistência pura do que se atrasa.”?
El Cisco ficou de boca aberta. Na verdade, nunca lhe passara pela cabeça desistir do quer que fosse para conseguir a sua reconhecida rapidez.
- Sabes, el Nuno, não sou grande amigo de leituras. Gosto mais da vida de aventuras, da vida no campo… é bem mais simples.
- Então, amigo el Cisco, deixo o desafio às suas amigas e amigos? Qual será o primeiro a ultrapassar o inenarrável silêncio que se segue à pergunta cultural?
A grande corrida
No dia seguinte, pela manhã, a animação na Feira do Mês era significativa. A primeira prova a ter lugar, consistindo em 10 voltas em torno da feira, iria ser disputada por 20 cavaleiros. A presença de el Cisco provocou desde logo algum embaraço entre eles, pois todos conheciam as qualidades de Diabo, o cavalo que este utilizava, já que era presença habitual naquela disputa.
- O diabo do cavalo há de envelhecer e perder qualidades – dizia um dos concorrentes.
- A minha vontade é desistir… ele nunca dá oportunidade aos adversários. – respondia outro.
Pouco depois, frente ao posto da GNR, os 20 concorrentes encontravam-se alinhados e prontos a partir.
Entre a assistência, Lucy gritou por el Cisco.
- Cisco, Cisco, estou aqui…
El Cisco viu-a e sorriu-lhe. No fundo, tinha saudades dela e já lhe tinha perdoado a incompreensível atitude que a tinha levado a dar-lhe um soporífero para não enfrentar o Bala.
- Espera por mim no final da prova – gritou-lhe.
Começaram os preparativos para a partida. Lucy estava nervosa vendo o seu ídolo no meio dos concorrentes. Pouco depois, Flor Vermelha e Sylvie la belle estavam junto dela…
- Vai começar a corrida…
- Se fosse a ti, não me prendia muito a esse indivíduo – respondeu Sylvie – não tem ar de quem queira ter uma vida repousada em casa. E aquele Juanico gosta de o levar por esse mundo fora.
- Tu, cala-te. E diz-me: por que não estás na barraquinha de tiro? Precisamos de fazer negócio, de tirar algum proveito de tanta gente.
- Eu e Flor Vermelha temos tudo preparado para depois da prova. Agora, estarão todos entusiasmados a ver a corrida.
Nesse momento, através de um altifalante, alguém noticiava.
- Senhores e senhoras, vai iniciar-se a grande corrida anual da Feira do Mês…
Um silêncio quase absoluto caiu sobre toda aquela gente. Os cavalos resfolegavam prontos a partir. O diretor de corrida ergueu uma pistola e preparou-se para dar início à prova.
“PUM”!
O tiro foi o sinal para a partida dos cavaleiros. Aquela mole imensa precipitou-se em extrema confusão para a frente, mas o próprio facto de estarem tão perto uns dos outros fez com que algumas intenções se gorassem e alguns cavalos arrancassem em sentido contrário.
Na primeira curva, el Cisco seguia numa confortável terceira posição e era perseguido por cinco cavaleiros muito rápidos. Um deles aproximava-se rapidamente, mas, uma escorregadela na curva fez com que o cavalo derrubasse o cavaleiro e dois outros precipitaram-se para cima dele. El Cisco respirou…
«É sempre o mesmo… falta de experiência».
Continuou a perseguir os dois cavaleiros que tinha à sua frente, mantendo-os sob controlo, procurando não cansar excessivamente Diabo. Um deles acabou por ceder…
À oitava volta, el Cisco seguia em segundo lugar sem esforçar muito o cavalo. Era seguido apenas por cinco concorrentes já a considerável distância. Os restantes tinham desistido. Resolveu então fazer o ataque final. Um pequeno toque em Diabo e este como que ganhou asas. Num instante, galgou a distância em relação ao primeiro dos concorrentes…
- Força, Cisco, força! – gritava Lucy entusiasmada…
Mas parecia que algo de estranho se passava. Apesar de muito mais veloz, parecia que o cavalo de el Cisco não conseguia ultrapassar o adversário que, sistematicamente se atravessava à sua frente e o impedia.
El Cisco sorriu friamente.
-Vais ver…
Com considerável esforço, posicionou-se à direita e, quando o adversário se atravessou à sua frente, forçou Diabo a saltar-lhe por cima, passando rapidamente para a frente dele. Pouco depois, atravessava a meta em primeiro lugar, perante a ovação de toda aquela gente compreensivelmente entusiasmada.
Não sabia, no entanto, que, no meio daquela multidão, alguém tinha outros projetos.
- Aquele cavalo tem de ser meu…
Enquanto sentia os aplausos da multidão, el Cisco entregou o cavalo a Flor Vermelha:
- Por favor, vai pô-lo no pátio do Dona Aurora e dá-lhe uma boa ração. Ele merece.
Lucy aproximou-se feliz:
- Cisco, és o meu herói…
El Cisco pôs-lhe um braço sobre o ombro e respondeu:
- Temos de pensar na nossa vida. Começo a estar cansado de estar afastado de ti.
Quem não gostou nada de ouvir aquilo foi Juanico, el Panchito que começou a ver a sua vida de aventuras e comidinha variada a andar para trás…
Uma famosa detetive tenta decifrar o mistério
A corrida de cavalos entusiasmava as pessoas de Ourém. Mas havia uma menina que estava deveras intrigada e, como não apreciava tão reconfortante competição, dirigiu-se ao Central armada em detetive.
- Olá, Nuno. Estive a ler a charada que deixaste a el Cisco e estou intrigada…
- Ora, não acredito, decerto, com o seu espírito detectivesco, já decifrou tudo…
- Nuno, tens de dar mais algumas pistas…
- Não creio. Vendo aqui mais de uma centena de jornais onde essa citação foi publicada. Publicada e destacada. Só pessoas muito desatentas é que não terão dado por ela. Além disso, é da autoria de um jovem autor português, por sinal, bastante conceituado. Não percebo como é possível andarem aí a exibir, durante todo o fim de semana, o saco com o jornal e desconhecerem o seu conteúdo.
- Acho que estás a exagerar. A tua missão é vender os jornais, não tens que te preocupar se os leitores leem ou não um ou outro artigo.
- Bom… vou deixar-lhe mais uma pista. O ensaio sobre a rapidez tinha a ver com migrações de tartarugas. Como é que animais tão lentos percorrem distâncias tão grandes para desovar no local onde terão nascido?
A Teresinha sentiu-se encantada com aquela estória.
Naquele momento, uma formidável ovação atroou os ares.
- El Cisco! El Cisco! – parecia ouvir-se toda a gente a gritar.
«Pronto… lá ganhou a corrida. Mas eu tenho de decifrar este mistério.»
Agradeceu ao Nuno. No fundo já sabia mais qualquer coisa: o jornal publicava-se ao fim de semana e era transportado em saco. Sim… já não tinha dúvidas onde haveria de procurar.
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E os amigos do Estorietas? Será que conseguem identificar o autor da famosa citação sobre a rapidez e onde a mesma teve lugar? Será que algum consegue antecipar-se à Teresinha?
A traição numa estória de amor
Pouco depois, iniciou-se a prova de tiro que consistia em acertar num conjunto de latas que estavam em cima de uma pedra junto ao quiosque do sr. Batista e mantê-las no ar com outros tiros o máximo de tempo possível.
El Panchito teve um tempo interessante, mas el Cisco bateu todos os recordes e, com enorme facilidade, mereceu o prémio que lhe foi entregue pela Livinha:
- El Cisco, tenho muita honra em entregar-te, em nome da nossa autarquia, este magnífico prémio devido ao desempenho que tiveste no nosso concurso.
- Obrigado, muito obrigado…
Entretanto, el Panchito era abordado pelo indivíduo que cobiçava o cavalo de el Cisco.
- O seu amigo dispara muito bem.
- É o melhor atirador que eu conheço. Nunca encontrei nada assim…
- E tem um magnífico cavalo. Será que ele o quer vender?
- Duvido. Afeiçoou-se a ele há muitos anos e duvido que se consiga separar de uma paixão como a que tem pelo cavalo…
- Mas olhe que, aparentemente, está encantado com aquela jovem de cabeleiros loiros que não o larga. Já vi um casamento começar por menos.
E Juanico, el Panchito viu el Cisco e Lucy abraçados como se nada os pudesse separar.
«Meu Deus… que vai acontecer à nossa amizade?...»
Juanico não era mau, mas, naquele momento, uma ideia invadiu o seu cérebro com o objetivo de afastar el Cisco daquela beldade.
- Gostava do cavalo de el Cisco?
- Diga-lhe que lhe dou 100 contos por ele…
- A sério?
O homem meteu a mão no bolso e tirou um maço de notas.
- Vê? Está aqui o dinheiro. Posso pagar imediatamente.
E, naquele momento, Juanico foi acometido pela tentação da traição.
- Olhe. Dê-me o dinheiro. Pode ir buscar o cavalo ao parque da Dona Aurora. Conhece-o imediatamente. Eu direi a Cisco que alguém o levou e deixou este dinheiro por ele…
O homem não quis ouvir outra coisa. Entregou o dinheiro e, pouco depois, montado em cima de Diabo cavalgava para longe daquela terra, enquanto Juanico, el Panchito pensava:
- Daqui a uns momentos, saberás que te levaram o cavalo. Vamos a ver se ficas ao pé dessa serigaita rendido aos encantos dela…hás de perder o fanatismo todo. E vou levar-te para novas aventuras.
Desespero de uma alma apaixonada
Junto à barraquinha de tiro, el Cisco era a atração principal fazendo crescer exponencialmente o negócio de Sylvie la Belle e Flor Vermelha.
- À próxima – dizia esta – trarei umas atrações da minha tribo. Um torneio de arco e flecha era capaz de dar resultado aqui numa barraquinha.
El Cisco e Lucy continuavam embevecidos. A certa altura, Juanico, el Panchito aproximou-se.
- El Cisco, está na hora do nosso almoço. Onde achas que vamos comer?
- Há aí uma esplanada enorme junto ao quiosque. Podíamos arranjar uma mesa para todos…
- Vou já tratar disso.
Por volta do meio-dia, estavam sentados numa esplanada improvisada e encomendaram a comidinha. El Cisco só tinha olhos para Lucy, Juanico contemplava o amigo com raiva.
«Sempre quero ver como reages quando souberes… maldito fanático. Parece que foste apanhado por uma seita».
A refeição começou por decorrer sem incidentes. A esplanada estava cheia e algumas pessoas esperavam por lugar…
De repente, el Cisco viu alguém chegar a correr: a Aurorita.
- El Cisco – disse ela aterrorizada. – O seu cavalo desapareceu. Deixaram uma nota a dizer que lho compravam por 100 contos e levaram-no.
El Cisco ficou de boca aberta. Num instante, perdeu o apetite, esqueceu tudo. Só se lembrou de Diabo, o seu fiel Diabo…
- Não é possível…
- Veja. Está aqui o dinheiro e a nota que a pessoa escreveu. E o seu cavalo não está no parque. Alguém o viu ser levado na direção de Tomar.
El Cisco levantou-se de um salto.
- Tenho de os apanhar. Quem me arranja um cavalo?
Um indivíduo aproximou-se com uma pileca magricela.
- Se quiser, posso vender-lho por 50 contos…
- Que roubalheira! Mas à farta de melhor… Panchito, prepara-te, partiremos imediatamente!
«Mas porque é que esta deu o alarme antes de terminar o almoço?» - pensou o gorducho.
Lucy, sentindo que mais uma vez ia perder a companhia de el Cisco, chorava convulsivamente. E, pouco depois, via-os partir…
Será que alguma vez voltaria?
Perseguição em cima de uma pileca
El Cisco e Juanico, el Panchito já corriam há várias horas na direção que presumiam ter sido levada pelo homem que se apossara de Diabo. A pileca disponibilizada a el Cisco, apesar de tudo, dava boa conta de si, mas, sem dúvida, a breve trecho teria de parar para descansar. Junto a uma pensão à beira da estrada, el Cisco tomou uma decisão.
- Juanico, vamos descansar umas horas…
Entraram na pensão e, pouco depois, estavam a comer enquanto os cavalos descansavam. El Cisco, dando os sinais de Diabo, perguntou se tinha passado por ali alguém.
- Partiram na direção de Tomar há cerca de três quartos de hora. Estavam muito contentes com o cavalo que tinham adquirido.
- Adquirido? – repetiu el Cisco surpreendido.
- Foi o que lhes ouvi dizer…
Juanico resolveu esclarecer.
- Cisco, não te esqueças que te deixaram 100 contos pelo cavalo. É como se o tivessem comprado…
- Mas um negócio desses implica o acordo do vendedor. Não descansarei enquanto não os apanhar e lhes der o castigo que merecem.
El Panchito começou a ficar nervoso. E se o seu amigo descobrisse o que ele tinha feito? No fundo, era uma verdadeira traição, sabendo como sabia que ele adorava o cavalo.
Passado um quarto de hora, el Cisco tomou uma decisão:
- Juanico, vais ficar aqui com a minha pileca e eu parto no teu cavalo em busca do Diabo. Assim, poderei ganhar alguma vantagem. Encontrar-nos-emos em Tomar logo à noite.
Juanico, el Panchito tentou reagir, mas a decisão estava tomada. El Cisco retomou a marcha e ele, amargurado, continuou a refeição, embora sem grande apetite. Que faria el Cisco quando descobrisse?
O segredo da eterna juventude
A Gracelinda andava intrigada com as charadas que o el Nuno mandava. Assim, pouco depois do concurso de tiro, dirigiu-se ao Central com a intenção de esclarecer as suas dúvidas.
Na sala de bilhar, o ruído era mais intenso do que no local do torneio de tiro. Nem se atreveu a espreitar lá para dentro, imaginando que levava uma daquelas horríveis boladas que aqueles selvagens punham a deslizar sobre a mesa verde sem o menor cuidado.
- Ouve lá, Nuno, não sabia que agora te dedicavas a jogos literários. Já não te bastavam as raspadinhas e o Euromilhões.
- Sabe? Faz-me confusão que se compre tanto jornal e se leia tão pouco. Uma citação tão importante e ninguém a terá lido. Ainda se o autor fosse um desconhecido, mas é um dos vultos atuais da nossa literatura que eu mais considero… Nunca pensei… A própria Teresinha que tem um faro detectivesco de primeira ordem, não consegue descobrir nada depois dos elementos que ontem lhe dei.
- Nuno, tu não disseste muito… falaste num jornal de fim de semana que era fornecido dentro de um saco…
- E só há um nessas condições…
- Eu sei e, apesar de não ler esse jornal habitualmente, identifiquei-o logo. Mas tens de compreender que tem mais de uma centena de nomes e artigos. Como chegar lá…
- É só desfolhar, Gracelinda, desfolhar… A citação cai-nos em frente aos olhos… E vou-lhe dizer mais, a canção que o Estorietas puser esta tarde tem a ver com o título principal da revista…
- Ah! A citação vem na revista?
- Não devo dizer, mas, como acredito que ninguém mais saberá do assunto, tenho de confirmar. Sim, faz parte da revista do semanário do dr. Balsemão…
- Olha, por acaso não me podes dar um código para eu aceder ao jornal através da Net para não ter de o comprar?...
- Também já não tenho nenhum à venda. Experimente CLMK6… talvez resulte.
Nesse momento, enorme cavalgada passou em frente ao Central e tomou a direção de Tomar. Em cima dos cavalos, quatro jovens mulheres incitavam as montadas a acelerar…
- Que coisa estranha! – disse a Gracelinda – A Lucy, a Flor Vermelha, a Sylvie e a BirdWatching tudo com cara de caso. Que se passará?
- Olhe, não se rale, andam loucas por el Cisco. Trate de decifrar o enigma da tartaruga e terá ao seu dispor quatro raspadinhas à conta do Central. Promessa do Nuno…
E pronto…
… vamos ver quem se apresentará em primeiro lugar frente a el Nuno a reclamar o prémio por ter decifrado o enigma da tartaruga.
literatura e absinto
E as visitas a el Nuno iam-se sucedendo, procurando esclarecer o grande mistério da citação. A Dona Natália já não conseguia suportar tanta conversa:
- Nuno, tens de ir ajudar o teu pai nas vindimas. Não podes passar o tempo aqui no café por causa de um artigo de jornal.
Mas el Nuno não desarmava:
- Mas eu não posso defraudar os nossos clientes. Propus-lhes um passatempo e tenho de o levar até ao fim.
- Cá por mim, não queres é ir vergar as costas na vindima.
El Nuno encolheu os ombros e foi ao interior das instalações, deixando a Dona Natália ao balcão. E, nesse momento, entrou mais uma menina em investigações.
- Bom dia, Dona Natália. Posso falar com o Nuno? Preciso de uns esclarecimentos sobre o passatempo que ele criou…
- Diz bem, menina, é mesmo um passatempo para ele que não faz outra coisa – e virando-se para o interior. – Nuno, vem cá. Está aqui a filha mais nova do sr. Bragança.
Efetivamente, a Ceuzinha decidira ir pedir mais alguns elementos sobre o autor da citação. Pouco depois, el Nuno chegava junto dela.
- Estou com algumas dúvidas. O Expresso é tão grande, tem tanto texto, tanto autor que receio cometer um erro. Como disseste que ele é um escritor conceituado, não podes dar-me mais algum elemento?
El Nuno pensou um pouco e, ao fim de algum tempo, prontificou-se a partilhar um elemento adicional.
- Como lhe disse, é um autor conceituado. Há tempos, numa nota introdutória a um livro sobre o senhor Henri, deixou outra citação, mas esta da autoria de Alexandre O’ Neill
Muito deve a literatura
ao absinto,
Em qualidade, muito mais
Que ao tinto…
A Ceuzinha fartou-se de rir:
- E tem razão. Tantas vezes estou a ler um autor e a pensar que ele se meteu nos copos. Se calhar, tenho de passar a beber qualquer coisa antes de ler, para o perceber melhor…
- E se tiver falta de ar num dia especial da semana, por exemplo, a uma terça feira, lembre-se que lhe pode ter acontecido algo numa vida anterior…
- Como? – redarguiu a Ceuzinha angustiada.
- A Céu pode ter algum antepassado que morreu enforcado numa árvore alta, de cerca de seis metros de altura com metro e meio de diâmetro. Esse terrível acontecimento passou-se a uma terça-feira e daí a falta de ar sempre à terça-feira.
Ela desatou a rir:
- Nuno, estás louco…
- Bom, já lhe disse tudo o que tinha a dizer. Só me falta dar-lhe o nome do autor e isso não me parece correto.
- Tens razão, vou tentar descobrir. E, para começar, dá-me um copo de absinto… esse sim vai ajudar-me a investigar.
Amigos oureanos e oureanas, já sabem… para responderem ao desafio do Nuno, em vez de um copo de tinto, metam, mas é, um de absinto…
El Cisco e Juanico, el Panchito separam-se
Juanico, el Panchito ainda comia quando enorme ruído se ouviu junto à pensão. Pouco depois, quatro mulheres entravam por ali dentro acompanhados por três índios.
- Onde está Cisco? – perguntou Lucy.
- Já partiu atrás do indivíduo que levou o Diabo. Eu fiquei para a pileca poder descansar.
- Vamos – gritou Flor Vermelha. – Temos de os alcançar. Soubemos que o indivíduo que levou o cavalo é um dos piores facínoras do concelho. Ele não vai devolver o cavalo a el Cisco…
Saltaram para os cavalos e retomaram a marcha. A Juanico, el Panchito não restou mais do que ir buscar a pileca e segui-los à velocidade que esta conseguia atingir.
O tempo foi passando enquanto os cavaleiros iam percorrendo quilómetros. El Cisco foi, naturalmente, o primeiro a ver sinal dos perseguidos.
«Vão ali. São três. Terei de ter cuidado na forma de os abordar».
Mais à frente, havia uma colina. El Cisco resolveu mudar de direção, atalhar e fazer uma espera aos indivíduos. Atravessou umas sebes, passou do lado esquerdo da colina e apareceu do outro lado da estrada onde procurou um refúgio. Pouco depois, surgiam os indivíduos que ficaram espantados quando ele lhes surgiu à frente.
- Parem. Esse cavalo não vos pertence.
O indivíduo que tinha pago o cavalo redarguiu.
- Espere. Eu comprei este cavalo a um indivíduo gordo que me indicou onde ele estava guardado e permitiu que o fosse buscar.
- É mentira. Esse cavalo pertence-me. Quer ver?
Assobiou de forma especial, o cavalo empinou-se e, de um momento para o outro, derrubou o indivíduo que o montava. Os outros dois puxaram pelas armas, mas já el Cisco lhes apontava o revólver.
- Quietos!
Entretanto, Diabo já estava junto de el Cisco, reconhecendo-o como o verdadeiro dono. O homem estatelado no chão ainda reagiu.
- Garanto que paguei cem contos por esse cavalo.
- Mas eu nunca quis vendê-lo. E isso é o principal.
- Não vou desistir – e puxou de uma arma escondida.
El Cisco não seria apanhado desprevenido, mas mais rápido do que ele foi Flor Vermelha que lançou o seu tomahawk e lhe acertou na mão com toda a força, desarmando-o. Os índios rodearam os três indivíduos que se renderam. As quatro miúdas rodearam el Cisco e este afirmou:
- Agora, vamos esclarecer tudo. Que história é essa de ter pago 100 contos pelo meu cavalo?
El Cisco ficou espantado com a estória e quando Juanico, el Panchito chegou junto dele deu-lhe uma valente descasca.
- Por que fizeste isto, Juanico?
- Andavas enfeitiçado com essa miúda loira. E eu não queria abandonar a nossa vida de aventuras.
Lucy chorava.
- Juanico, nunca pensei que me fizesses uma malvadeza dessas…
- Deixa – respondeu el Cisco. – Já percebi tudo. Voltaremos a Ourém e passaremos ali mais uns dias para poder pensar no que vamos fazer. E a ti, Juanico, só te quero ver e falar quando reconheceres quão injustas foram as tuas acusações de fanatismo. Vai, parte, dá uma longa volta sozinho pelas redondezas e, quando reconsiderares, volta.
E Juanico, el Panchito, acabrunhado, partiu com a tristeza de quem abandona um grande amigo. Quem sabe se um dia voltaria. Quem sabe se el Cisco lhe perdoaria. O certo é que as suas acusações e a sua ação tinham sido muito feias… ele próprio reconhecia que não merecia perdão e, por isso, nem reagiu. E os dias passaram sem dar testemunho de si…
FIM
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