domingo, outubro 10, 2004

Abusos
O Público hoje dá mais alguns elementos sobre o caso Pombal Fala já noticiado no Castelo. Ao que parece terá havido alguma insistência camarária para calar o dito blogger o qual não terá tido todo o cuidado: ele usou o equipamento e tempo de trabalho na empresa que lhe pagava o salário para desancar na Câmara. É um caso muito semelhante ao de Marcelo: usava o tempo de antena na TVI para desancar no governo em cuja actuação aquela empresa tinha eventuais interesses.
No mesmo jornal, Barreto assina uma crónica onde algumas passagens são extremamente lúcidas:
Qualquer empresa privada da imprensa e da televisão tem o direito de contratar e substituir os profissionais, os colunistas e os jornalistas que entenda. Como tem o direito de aspirar a uma posição de isenção ou de ter uma linha política determinada, favorável a um ou outro partido, uma ou outra política, um ou outro grupo económico. E, desde que respeite as leis do trabalho e as obrigações contratuais, tem o direito de despedir quem não escreva, não pense ou não fale de acordo com os seus interesses. Mas também tem, evidentemente, de pagar os custos das suas decisões. Se despede alguém, se censura um comentador, se pretende dar instruções a quem se exprime, se procura fazer favores ao governo ou aos grupos económicos a que pertence, se deseja manipular a inteligência, se tenta moldar o pensamento dos seus colaboradores, se assim age, uma empresa privada não se deve depois admirar com as consequências dos seus gestos.

Por seu lado, o Governo não tem o direito de tentar controlar a informação, canalizar recados, escolher dependentes para fazer o seu "dirty work", fazer favores aos seus amigos do Capital, enriquecer os seus aliados, nomear sistematicamente os seus tarefeiros de partido, seleccionar subservientes para as empresas em que detém poder de decisão, silenciar homens livres, forçar pessoas independentes a conformarem-se aos seus mais que suspeitos desígnios, calar adversários e asfixiar concorrentes. Nem tem o direito de escolher capitalistas ou seleccionar jornalistas.
Não são estes os únicos abusos que se podem notar na relação das pessoas com as entidades empregadoras.
Coloco este blog à disposição dos oureenses para denunciarem qualquer caso de abuso bem documentado.
Lembro outros dois casos típicos.
Há anos, numa empresa multinacional, um técnico da área de informática resolveu frequentar um Mestrado, habilitação superior à do líder informático da empresa. É claro que cometeu os seus abusos para assistir a algumas aulas. No final, esses abusos foram aproveitados para fundamentar a carta de despedimento.
Outro caso conhecido é o aproveitamento do produto de trabalho dos elementos com uma situação inferior na escala hierárquica. É muito comum que trabalhos por eles elaborados sejam apresentados aos níveis superiores como sendo da autoria das suas chefias, fazendo esquecer a sua contribuição que terá sido fundamental. Indivíduos em posições de chefia, que nunca tiveram jeito para o quer que fosse, acabam por se apresentar como autores de documentos em autarquias, em empresas públicas ou privadas produzidos por trabalhadores que dependem deles.
Se algum oureense se sentir em alguma destas situações pode enviar-nos uma descrição da mesma para aqui.

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