quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Incógnito ou Inconsciente?

Um comentário no Castelo tentou desvalorizar o estudo do INE sobre o poder de compra concelhio per capita. Na onda do autarca de Celorico, insinuava que as pessoas iam fazer as compras a Leiria e afirmava que em Ourém não existe desemprego.

Isto merece-me três notas.

Em primeiro lugar é importante dizer que o estudo do INE se baseou não em uma, mas em vinte variáveis que listamos na parte final do artigo, referindo-se a maior parte delas a actos verificados no concelho. A análise efectuada é assim uma perspectiva multidimensional baseada em técnicas que são utilizadas em todos os países avançados e que procuram identificar um conjunto menor de factoress para proceder à interpretação dos resultados. No caso presente foram identificados os factores Indicador do poder de compra per capita e o Dinamismo Relativo (onde Ourém não se situa nada mal). Mas o resultado para o primeiro é deveras preocupante e deveria fazer pensar qualquer responsável autárquico ou mesmo do governo central em vez de formular desculpas saloias para atirar a questão para o caixote do lixo.

Em segundo lugar, ninguém pretende responsabilizar as autarquias por estes atrasos. Se os empresários não investem, se pagam maus salários, a culpa não é obviamente da Câmara. Mas ela já será culpada de não gerar acções que possam a prazo contrariar esta tendência, sem se substituir à iniciativa privada.

Em terceiro lugar, há que referir a estafada questão do desemprego tão do agrado do Incógnito e do nosso venerado presidente David. Pode parecer que não há desemprego em Ourém, mas tal só acontece porque o desempregado, naturalmente, não fica lá a procurar trabalho. Quantas pessoas de Ourém são obrigadas a procurar trabalho em grandes centros do país ou estrangeiro? Quantos tiveram de emigrar? Quantos estarão nas listas do Instituto de Emprego e Formação Profissional com uma residência na Grande Lisboa ou noutro centro urbano que constitua uma atracção de desempregados? Assim, este argumento não é mais do que cinismo e hipocrisia.

Nestas condições, mantenho que o estudo efectuado deveria ser uma grande fonte de preocupação para todos os oureenses que não devem ir na onda ilusória lançada pelo candidato laranja.

Eis os indicadores utilizados pelo INE:
.Imposto sobre veículos, contabilizado pelas Câmaras Municipais, per capita, 2002
.Consumo doméstico de electricidade, per capita, 2002
.Número de telefones fixos (postos principais) da Portugal Telecom, per capita, 2002
.Número de acessos RDIS básicos instalados pela PT (usados geralmente para estabelecer uma ligação à Internet sem prejuízo do uso normal do telefone), per capita, 2002
.Número de pessoas ao serviço nas empresas da CAE 52 (comércio a retalho), com actividade, sediadas nos concelhos, per capita, segundo uma fotografi a extraída do Ficheiro de Unidades Estatísticas (FUE) do INE, que inclui dados físicos de 2003 e económicos de 2002
.Número de automóveis, ligeiros de passageiros, vendidos e registados nos concelhos, per capita, 2001
Crédito à habitação (stock) concedido em estabelecimentos de crédito localizados nos concelhos, per capita, 2002
.Rendas de habitação, per capita, segundo estimativa realizada a partir dos Censos, refl ectindo o valor unitário e a dimensão do mercado de arrendamento, 2001
.Valor dos levantamentos em caixas multibanco, per capita, 2002
.Número de outras operações em caixas multibanco, excepto consultas, per capita, 2002
.IRS liquidado segundo o concelho de residência do contribuinte, per capita, 2001
.Rendimento colectável para efeitos de IRS segundo o concelho de residência do contribuinte, per capita, 2001
.Contribuição Predial Autárquica, inscrita como receita das Câmaras Municipais, per capita, 2002
.Sisa contabilizada pelas Câmaras Municipais, per capita, 2002
.População divorciada, segundo os Censos, per capita, 2001
.População com 21 ou mais anos com ensino superior concluído, segundo os Censos, per capita, 2001
.Densidade populacional (como indicador do grau de urbanização dos concelhos), 2002
.Número de empresas das CAE 551, 552 e 553 (alojamento e restauração, com exclusão de estabelecimentos de bebidas, cafés e similares), com actividade, sediadas nos concelhos, per capita, segundo fotografi a do FUE, que inclui dados físicos de 2003 e económicos de 2002
.Número de pessoas ao serviço em empresas da CAE 55 (alojamento e restauração, incluindo estabelecimentos de bebidas, cafés e similares), com actividade, sediadas nos concelhos, per capita, conforme a fotografi a mencionada em cima
.Hóspedes totais nos estabelecimentos hoteleiros, registados na Direcção Geral do Turismo, per capita, 2002


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