À medida que os anos passam as batalhas que perdemos custam cada vez menos a suportar porque, apesar de tudo, vão sendo apagadas pelo esquecimento. Em contrapartida, as batalhas que continuamos a perder custam cada vez mais. Quanto mais lutámos por elas mais amarga é a noção do desperdício de tempo e de esforço que vamos acumulando.
Uma das batalhas que perco diariamente é contra a interrupção
da leitura. Já a expliquei milhares de vezes. Alguma vezes explodi. Outras
vezes pedi encarecidamente. Nunca funcionou. Continuam a interromper-me como se
eu estivesse a ler a ementa.
Há pessoas que têm pena de mim por estar a ler.
"Coitado", pensam, "está a ler porque está sozinho". Vêm
fazer-me companhia, orgulhosos de serem bons samaritanos, salvando-me do triste
destino de ler. Mesmo gritando para que desandem dali e me deixem em paz não se
comovem — e não arredam pé. Alguém pôs-lhe nas cabeças que os livros só servem
para estudar e estudar é um castigo a que só nos submetemos quando tempos de
passar um exame.
Os livros precisam de concentração. Ando a ler a Simone Weil,
enlevado mas com dificuldade. Tenho de reflectir, voltar a ler, interpretar,
verificar se compreendi, pensar em exemplos e aplicações. Interromperam-me para
me dizer, com voz excitada, que estava ali sentado um jogador de andebol do
Sporting. Isto mesmo a meio de um parágrafo misterioso sobre a alma e a
gravidade. Passei-me. Tenho a certeza que esse interruptor nunca mais me fala.
Mas com a sorte que tenho pode ter sido o princípio de uma linda amizade.
1 comentário:
Curiosa como sou, investiguei PedroL…
Encontrei um blog, muito giro com bons relatos e fotos de viagens fantásticas!!!!
Gostei, pois que também eu adoro vadiar por terras estranhas...
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