Ourém, lá para 1954/55.
Na casa do Largo de Castela, o frio já se fazia sentir, convidando a ficar à braseira, ouvindo o ronronar da gatinha bem perto. Sentia-se o aproximar do grande dia. E lá veio aquela voz que nunca me deixa.
- Á, mê menino, o que é que tu vais pedir ao pai Natal?
- Uma bicicleta.
- Não acredites que ele ta traga, não cabe na nossa chaminé. Não vês que é excessivamente larga?
- O Alvega tem lá bicicletas que eu já vi e cabem perfeitamente – rematei, sem perceber o sentido de “não cabe na nossa chaminé”.
Chegou a grande noite. Fui deitar-me excitado, desejando que a manhã chegasse rapidamente para ver se a almejada bicicleta chegava.
Já me estava a ver... subir a rua de Castela, descer direito à Avenida, percorrê-la em grande velocidade e fazer grande arraial frente ao Avenida. Depois, havia a polícia... “e se eles me chateiam por não ter carta?” (os polícias da minha juventude eram tramados, especialmente o Cunha que nos roubava as bolas de futebol todas...).
Voltas e voltas na cama à espera da manhã...
E o grande momento chegou. Lá desci ao rés-do-chão e fui direito à chaminé.
Moedas de chocolate, um jogo, um avião com elástico, mas, sinais da bicicleta, nada. Afinal, era verdade: a nossa chaminé era demasiado pequena para ela lá caber. Devia dar-me por feliz, aliás aquele avião que levantava voo com a ajuda de um elástico tinha a sua piada.
Mas passei uns tempos com algum ressentimento (fico sempre bastante ressentido quando não me fazem as vontades ou quando me enganam e eu conto com as coisas e elas não surgem). Porque é que uns tinham a bicicleta e outros não? Porque é que ainda éramos tão pequenos, ainda nada tínhamos produzido e já éramos em tudo tão desiguais?
Na casa do Largo de Castela, o frio já se fazia sentir, convidando a ficar à braseira, ouvindo o ronronar da gatinha bem perto. Sentia-se o aproximar do grande dia. E lá veio aquela voz que nunca me deixa.
- Á, mê menino, o que é que tu vais pedir ao pai Natal?
- Uma bicicleta.
- Não acredites que ele ta traga, não cabe na nossa chaminé. Não vês que é excessivamente larga?
- O Alvega tem lá bicicletas que eu já vi e cabem perfeitamente – rematei, sem perceber o sentido de “não cabe na nossa chaminé”.
Chegou a grande noite. Fui deitar-me excitado, desejando que a manhã chegasse rapidamente para ver se a almejada bicicleta chegava.
Já me estava a ver... subir a rua de Castela, descer direito à Avenida, percorrê-la em grande velocidade e fazer grande arraial frente ao Avenida. Depois, havia a polícia... “e se eles me chateiam por não ter carta?” (os polícias da minha juventude eram tramados, especialmente o Cunha que nos roubava as bolas de futebol todas...).
Voltas e voltas na cama à espera da manhã...
E o grande momento chegou. Lá desci ao rés-do-chão e fui direito à chaminé.
Moedas de chocolate, um jogo, um avião com elástico, mas, sinais da bicicleta, nada. Afinal, era verdade: a nossa chaminé era demasiado pequena para ela lá caber. Devia dar-me por feliz, aliás aquele avião que levantava voo com a ajuda de um elástico tinha a sua piada.
Mas passei uns tempos com algum ressentimento (fico sempre bastante ressentido quando não me fazem as vontades ou quando me enganam e eu conto com as coisas e elas não surgem). Porque é que uns tinham a bicicleta e outros não? Porque é que ainda éramos tão pequenos, ainda nada tínhamos produzido e já éramos em tudo tão desiguais?
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