quarta-feira, março 04, 2020

Um avião em apuros

O condutor do jeep chegou a pé ao quartel e o comandante foi logo ter com ele.
- Que se passa? Onde está o carro? E os miúdos?
- Desapareceram – respondeu ele em pânico. – Fui comprar cigarros ao Central e abandonei-os por uns instantes. Quando voltei, já não os encontrei. Alguém os levou mais ao jeep pela estrada do regato.
O comandante ficou fulo.
- Incompetente! Não se abandonam três miúdos quando os conduzimos.
Entretanto, chegou o Dr. Armando que deitou logo as mãos ao pescoço do bombeiro.
- Malvado! Sabes o que fizeste? Vou dar-te uma sova…
Os miúdos estavam em pânico pela falta dos colegas. Que lhes teria acontecido? O comandante dirigiu-se ao diretor do colégio.
- Por favor, doutor, tenha calma. Esse homem depende de mim, terei de ser eu a aplicar-lhe o castigo merecido. Agora, temos de encontrar o jeep e os miúdos.
O Zé Rito (Avião) ouviu aquilo e disse logo:
- Vou já iniciar as buscas pela estrada do regato.
Ligou a mota, acelerou e partiu por ali abaixo.
- Trrrrrroooooooo…to…to…to….to
O comandante virou-se para os outros e disse:
- Os meninos e as meninas vão para o refeitório onde temos uma refeição preparada. Esperem lá por nós enquanto procuramos os vossos colegas. – virou-se para o doutor Armando. – Por favor, doutor, pegue no seu carro e procure-os na direção do Castelo. Eu e outros bombeiros vamos dividir-nos por outras estradas de Ourém.
Num instante, a busca foi organizada e os alunos do CFL do segundo ano sentaram-se apreensivos no refeitório à espera dos colegas.
Entretanto, o Avião ia a toda a velocidade pela estrada do Regato na sua mota virtual.
«Vou ficar famoso. Hei de ser eu a encontrá-los».
- Zzzzzzzzz
Ao chegar à cruz do Regato parou.
«E agora? Para onde terão ido? Castelos ou Vilar?».
Foi na direção do Vilar. Pouco depois, cruzou-se com o João que ia a pé para Ourém e perguntou-lhe:
- Viste um jeep com três miúdos?
O João resolveu gozar:
- Vi, sim. Iam na direção do Vilar.
E o pobre do Avião lá se enfiou pela estrada do Vilar dos Prazeres numa busca infrutífera. Depois de correr mais de dois quilómetros encontrou uma loja de móveis. À frente dela, estava um velhote sentado num banco com um pau na mão e resolveu perguntar-lhe:
- O senhor viu passar aqui o jeep dos bombeiros com três miúdos lá dentro?
O velhote olhou-o irritado e respondeu:
- Meu amigo, não vi ninguém, garanto que não vi ninguém. E nunca lhe ensinaram que antes de dirigir-se a uma pessoa mais velha deve dizer bom-dia ou boa-tarde?
- Custa-me a crer que não os tivesse visto. O João, filho do comandante, disse que os viu nesta direção.
- Está a duvidar de mim? Vou ensiná-lo a ser um rapaz mais educado.
Levantou o pau e desfechou em cima do Zé Rito. O que lhe valeu foi que o Zé saltou de lado e evitou o golpe que podia ser fatal. Mas estava em maus lençóis. O velhote parecia doido. Espumava de raiva, não compreendendo que a sua chegada apressada não lhe tinha permitido ser absolutamente correto.
Mas o nosso Avião era muito rápido, muito mais do que uma pessoa de idade. Com um salto afastou-se enquanto ouvia um carro a fazer uma travagem. Lá dentro, vinham dois bombeiros:
- É o Zé Rito. Que fará aqui?
Num instante correram e detiveram o homem de idade.
- Tenha calma, ti’Alberto. Andamos à procura de três miúdos e um jeep roubado em Ourém.
Num instante, o velhote acalmou e voltou a garantir:
- Estive aqui toda a tarde. Eles não passaram por aqui. Só vi esse arruaceiro que duvidou de mim.
E o carro dos bombeiros, onde agora seguia o nosso querido Avião ainda surpreso com o desfecho da sua aventura, regressou a Ourém depois de uma busca falhada.

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