quinta-feira, maio 28, 2020

A força do prisioneiro

Conheceram então a fúria selvagem da rapariga. O João foi o primeiro. A forquilha acertou-lhe no traseiro, ele sentiu uma dor lancinante e só pensou em se pirar dali para fora. Em seguida, a rapariga atacou a Mari’mília acertando-lhe na cabeça com uma pancada fenomenal. Vendo isto, as outras desataram a fugir.
Lá dentro, o Estorietas ouviu as vozes e o ruído da luta.
«Os meus amigos… – murmurou – Ela está a maltratar os meus amigos…»
Como por encanto, sentiu-se a recuperar as forças. E fez monumental esforço para se libertar enquanto os gritos continuavam lá fora. Não podia consentir que os seus amigos fossem maltratados.
Naquele momento, o Estorietas faria inveja ao Sansão quando derrubava o templo. Com monumental força, conseguiu que a coluna desse de si, e o telhado começou a inclinar.
Lá fora cessara a luta. A Mari’mília estava caída no chão e os outros corriam para as bicicletas para se porem a caminho de Ourém com o João a sangrar do traseiro. Tinha-lhe saído cara a tentativa de conhecer a Deolinda.
Esta entrou em casa no momento em que o Estorietas atingia o seu objetivo. De um momento para o outro, a coluna deu de si, o telhado caiu com estrépito e uma telha atingiu a Deolinda que desmaiou. O Estorietas refugiou-se debaixo de uma mesa, depois, quando tudo terminou saiu de casa.
Viu a Mari’mília caída e amparou-a.
- Vamos, fujamos daqui.
Ela deixou-se envolver e ele conduziu-a à bicicleta. Depois, montou-a à sua frente e foi conduzindo com alguma dificuldade até Ourém. Mas sentia-se compensado sentindo o perfume dela.
Pouco depois encontravam-se com os amigos e o jeep da GNR.
- Eles estão salvos – gritou a Ciete.
- Mas precisam de assistência hospitalar. Vamos regressar a Ourém. Estes três jovens feridos vão no jeep e vamos trazer reforços para ver o que se passou na cabana.
- A cabana está derrubada e a Deolinda sepultada com ela – disse o Estorietas.
- Estabeleceremos uma cerca ao local e, amanhã, veremos como tudo está. Agora é o momento de descansar e tratar dos feridos.
E assim o Estorietas pôde voltar à sua terra e ao convívio com os seus amigos de sempre…


E a fera? Teria perecido sob o telhado caído?

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