segunda-feira, junho 08, 2020

A tela delatora

Quando o Bernardino deu pela falta do busto, chamou de imediato o comandante da GNR e um elemento da polícia local. As investigações começaram imediatamente e em breve chegaram a uma conclusão:
- Apenas estavam interessados no busto, pois não levaram mais nada. Com certeza obra de alguém ligado à arte.
- Mas reparem neste pedaço de tela… - disse o elemento policial.
Desdobraram o papel e conseguiram ler.
- Esquisito… isto é de uma tela do Estorietas.
- O safado – urrou o comandante. – Quis o busto para fazer alguma coisa com ele. Também tem a mania que é um grande artista, mas não irá longe.
- Não compreendo – dizia o Bernardino. – Se mo tivesse pedido, eu tinha-lho emprestado o tempo que fosse preciso.
- Ele é um malandro – bradou o comandante. – Sempre o foi. Há tempos denunciou uns amigos a dizer que estavam a realizar uma manifestação para libertar uma perigosa comunista.
- Não posso crer. Eu a pensar que tinha alma de artista…
- Artista da aldrabice… Bom, temos aqui uma prova, eu vou tratar de o mandar prender e fazê-lo confessar o que fez com o busto. Mantê-lo-ei informado, senhor Bernardino.
- Agradeço-lhe, comandante. Mas veja bem, ainda me custa a crer que esse rapaz tão calmo, tão compenetrado, tão bom estudante tenha feito isso.
E, no mesmo dia, para vergonha de toda a Rua de Castela, o Estorietas era preso, algemado e conduzido sob escolta à prisão da GNR. Mais abaixo, o João e a Deolinda gozavam o prato…

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