terça-feira, maio 18, 2004

Interrogações

Eis o belo e mais que cinquentenário edifício dos Correios, fruto de uma arquitectura bem característica, mas que, mais virado para questões do económico e do social, não sei classificar.
Nas traseiras do mesmo, não existia aquele soberbo edifício que hoje se vê, mas uma casinha com um quintal amplo onde o Pássaro e a Luzinha passavam deliciosas férias aproveitando para confraternizar com o maralhal. A sua contemplação sugere-me múltiplas questões.
Quem terá permitido aquela construção que, em vez de parede e tinta, ostenta tela nas costas? Porventura tanta tela e parede é para proteger o interior do Sol? Será aquela a orientação correcta? Não teria sido possível dar a tudo aquilo uma forma que o integrasse com o edifício dos correios? Não teria sido possível limitar-lhe a altura a um valor que não transportasse a quase noite eterna para a escola da Dona Iria?
Eis mais uma contribuição para a destruição impune do magnífico ambiente de uma povoação paradisiaca.
Mas esta divagação iniciou-se com o edificio dos correios. Reparem na sua varanda.
Lembro-me que, por vezes, àquele local assomavam três lindas meninas, três moiras encantadas, três formosas oureanas que podiam, assim, contemplar algumas maravilhas de Ourém: a igreja, o castelo, sei lá que mais.
E nós, distintos oureenses, da esplanada do Avenida, contemplávamo-las mordidos pela inveja de não nos ligarem nenhuma. Por que estariam ali? Por que não vinham até à esplanada?
Ourém é, assim, uma terra cheia de interrogações: as do presente e as do passado; as que ainda podem ter uma resposta, as que nunca a terão; as que interessam, porque podemos actuar positivamente sobre o meio em que vivemos e as que já não nos interessam de maneira nenhuma, pois há a consciência de não poder recuar no tempo.
E os erros que se podem aceitar por ingenuidade de quem decide não podem perpetuar-se no tempo. Mas parece-me que, ali para os lados do sítio onde era o cine-teatro de Vila Nova de Ourém, se está a preparar uma aberração algo semelhante.

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