segunda-feira, agosto 09, 2004

O fantástico rugido do «maquitan»

Era uma tarde de futebol no largo de Castela.
Jogava-se com empenho à procura do golo. O Jó Alho era o mais habilidoso, um autêntico médio de ataque benfiquista que só Ourém conseguiu descobrir.
O Manel não lhe ficava muito atrás. Bom a fintar e a idealizar jogo era mais possante e isso dava grande solidez à sua equipa.
O Luís Cúrdia tinha mais um ou dois anos pelo que a diferença física dava de imediato superioridade a quem jogava com ele.
O Luís Nuno era o guarda-redes de eleição. Um autêntico Carlos Gomes, que então brilhava pelo Sporting.
A minha modéstia proibe-me de falar no mais desajeitado ponta de lança que Ourém alguma vez conheceu, mas que, de vez em quando, marcava um golito.
O Zé Rito jogava, relatava e fazia de árbitro.
O Mina Guta trazia rapidez e argúcia a qualquer equipa.
Eram estes e outros heróis que, em certo dia da década de cinquenta do século passado, depois de os capitães de equipa escolherem, após moeda ao ar, os guerreiros de cada lado, procedimento em que, estranhamente, eu ficava sempre para o fim, disputavam renhida partida naquela fabuloso estádio.
A minha equipa já vencia por uns claros três a zero.
De repente, vindo daquela rua que se iniciava frente àquele local onde já funcionou a Dirup, que passava frente à casa do Luís Nuno e ao atelier do Souto(1), ouve-se um fantástico rugido que atroa oa ares.
Os jogadores param apreensivos. Que se passaria? Seria o George a ensaiar, uns cinquenta anos antes, a operação estrondo e terror, já a pensar na famosa cruzada em que se empenharia no início do século XXI?
O ruído continuava enorme e ouvia-se lata a bater sobre lata.
Ao fim de algum tempo, o mistério era esclarecido.
Um carrinho, um Austin de eleição, daqueles mais ou menos de forma semelhante aos actuais Partner ou Kangoo, carregado com balanças, entra pelo largo de Castela em baixa velocidade e com ruído elevado.
Era o maquitan.
Lá dentro, o João Honório gozava o susto que nos tinha pregado.
Excelente pessoa, foi outro dos que puderam desfrutar o prazer de habitar a casa do Largo de Castela, após eu a ter deixado. Tantas vezes lá voltei para ele me emprestar os magníficos Búfalos e Bisontes que possuia.
Agora, ali, estacionava junto à casa da Dona Aurora e permitia que nós, com o devido cuidado, continuássemos o jogo.


(1) Confusão. Era uma atelier onde se fabricavam jaulas para galinhas. Não sei se da responsabilidade de Souto ou Ezequiel Casimiro

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