Por Zé Rito
Os "Estúdios Trine" deixaram de existir pelo facto de ter saido de Ourém, por motivos profissionais, aliado ao facto de, uma vez em Coimbra, ter vendido o aparelho. Quando me apercebi, anos depois, do que foi feito tentei outro aparelho que reproduzisse aquelas bobinas. Não só não consegui como se perdeu o rasto às bobinas. Uma catástrofe.
Sei que chegaram a estar na Assembleia da República para, através do material lá existente, conseguir-se a sua recuperação. Estou convencido que alguém se aproveitou da situação e ficou com o material aproveitando-o para fins comerciais. Mas é só uma ideia.
Não queria fechar "As minhas memórias" sem deixar de falar, ainda que superficialmente, em quatro pessoas que, algures em Ourém, marcaram, para mim, a década de 60.
1- O Néné, do qual já falei anteriormente, o qual foi mimoseado por crónicas que fazia no "Notícias de Ourém", sob o pseudónio de "Ego Cauny".
Uma das vezes, apelidei-o de "pintor privativo" da Câmara já que andava a pintar com fundo preto e a branco os números das portas das Ruas da Vila. Teve o azar de em determinada Rua colocar do lado direito e esquerdo o mesmo número. Levou, brincando, "castanhada".
2- O Tóná, o qual se hoje fosse vivo andava triste com o seu Ourém. Dedicou uma vida aos jardins e parques, conservando uns e criando outros. Tudo desapareceu ou está a desaparecer.
Veja-se a Praça Agostinho Albano de Almeida, vulgo "Praça dos Carros" em frente ao Central. Nada de nada.
Foi justamente homenageado. No Café Avenida, foi colocada, a propósito, uma fotografia de corpo inteiro com a medida exacta dos seus 2 metros de altura.
3- O Zico Pereira, Comandante dos Bombeiros. Faleceu abruptamente vítima de uma injecção de penincilina. Tinha ido arrancar três ou quatro dentes, numa manhã, a Tomar. O dentista deu-lhe penincilina para utilizar no caso de ter dores. A meio da tarde saiu do armazém, com o filho João, direito ao consultório do Dr. Nini. Teve morte imediata. A prova da sua grande reputação foi transmitida no seu funeral com a presença de um mar de gente. Bombeiros de Norte a Sul do País fizeram-se representar.
Os Bombeiros da então Vila Nova de Ourém ficaram a perder com o seu desaparecimento.
4- Por último, o Ezequiel, no seu "habitat" ou seja o Café Avenida.
a) - Num belo fim de tarde/noite no alpendre do quintal do "Zé Mineiro" apanhei a que foi a minha primeira bebedeira comendo frango de churrasco regado com o bom vinho da casa.
Levaram-me para o Avenida e enfiaram-me não sei quantos cafés sem açúcar entre outras coisas. A finalidade era ser entregue em casa no melhor estado possível. O resultado foi que inundei a mesa e o chão de tudo o que tinha enfiado. Não esquecendo o vinho e o frango. O desgraçado do Ezequiel é que teve que limpar e eu, naturalmente, no dia seguinte pedir-lhe desculpa.
b) - Na altura eram administrados diversos cursos de cristandade. Todos os homens que o desejassem poderiam frequentar estes cursos. E quando saiam tratavam-se com um "tu cá, tu lá", mesmo que antes o tratamento fosse por você ou mesmo por Sr. Doutor ou Sr. Engenheiro. Ficaram conhecidos pelo "Curso dos Tus". Em determinada altura estes cursos tornaram-se extensivos às Senhoras. Foi quando, numa tarde em que estávamos a jogar às Damas no nosso canto e o Conde exibia-se ao bilhar, que fazendo rodar a porta giratória da entrada do Café entrou esbaforido o Paisana. Deu com o Ezequiel e entusiasticamente afirmou alto e bom som: Ezequiel, meu amigo, a partir de agora a minha mulher também é "tua".
c) - Eventualmente nós, em outra altura, estávamos a jogar às Damas no nosso canto e o Conde a jogar ao bilhar. Uma senhora, que estava em Ourém de passagem, levantou-se, dirigiu-se ao Ezequiel e perguntou: "Tem urinol?" . O Ezequiel no seu alto profissionalismo, conhecendo o local solicitado por "casa de banho" ou, eventualmente, "retrete" respondeu não se intimidando "Minha Senhora, neste momento está esgotado. Muito provávelmente para a semana já temos."
Por mim, vou-me despedir não até para a semana mas ATÉ SEMPRE!
Rio Torto, 2005-01-02
José Manuel Rito
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