quinta-feira, novembro 10, 2005

As pessoas e as causas - 2

Eu tinha quase a certeza que o Sérgio não poderia ficar calado. E ele fez um belo texto onde a palavra chave é coerência e que eu não posso deixar de trancrever, concordando com ele, mas sublinhando que, como humano, inseguro, crédulo... umas vezes dou mais valor às amizades outras às causas:

Nascemos numa família (os que em família nascemos). Ao longo da vida, fomos criando amizades, fomos encontrando "causas", fomos criando famílias (que às famílias existentes se acresceram ou não).
Duro é, ao longo da vida, alguns de nós descobrirem que as amizades não são incondicionais, que as "causas" exigem coerência, que as famílias podem ser instáveis e perenes, como as relações que mais queridas foram o podem ser. Por causa das "causas"?
Também. E por um pormenor que o dicionário pode ajudar a explicar. Causa é s.f. Princípio. Motivo, razão, o porquê de qualquer coisa.
Ora a descoberta/invenção dos porquês pode levar à razão de ser de um homem (uma mulher). E essa razão de ser, ao escorar-se em princípios e valores, pode relativizar muita coisa e causa (et pour cause, como diriam os... ingleses).
Pode um homem (uma mulher), que tem como princípios e valores os da solidariedade, do companheirismo, da entre-ajuda, ter como amigos quem pratica princípios e valores antónimos ou nos antípodas?, pode ser parte de uma família que se enconche (e o/a enconche) na sublimação do egoísmo, da indiferença, da des-solidariedade?
Se pode haver "causas" (que não encontrei no meu caminho, e não procuro...) que defendam o abandono de amigos e a destruição da família, há as que, valorizando a amizade, prezando muito os laços familiares, exigem uma coerência que leva a relativizar e a pôr em risco, até por incompreensão, relações muito queridas.
Escrevi coerência? Pois é uma palavra-chave (teoria <--> prática).
Também é verdade que os sentimentos, a afectividade, o amor, perturbam muito. E que há as tais razões que a razão (de ser) desconhece.
Por isso, somos todos uma mescla de "duros", de crédulos", de "inseguros" e de "outras coisas". A questão é a dosagem, e o que conseguimos pôr ao de cima para nos fazer ser o que queremos parecer. Para ser.
In anónimo Sec.XXI

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