Posto perante monumental chantagem pelos seus parceiros na
União Europeia e pelo FMI, o Governo da Grécia tomou a única decisão possível num quadro
democrático: ouvir o povo.
Sabe-se que as opções poderão não esgotar o universo
possível: o SIM significa o aceitar regras de austeridade vexatórias de
dignidade humana e que se traduzem em ter orçamentos crescentemente excedentários
para pagar juros enquanto a dívida vai crescendo; o NÃO, sem saída do euro,
representa a ilusão de que a UE irá negociar e permitirá a reestruturação da
dívida.
O SIM implicará possivelmente a queda do Governo e novas
eleições. O NÃO traduzir-se-á em novo confronto do Syriza com a UE.
Tenho seguido com redobrada atenção este processo
interessantíssimo que me faz recordar os tempos do 25 de Abril, mas onde, desta
vez, os «bons» estão na mó de baixo. E confesso a minha estima por Tsipras e
Varoufakis, que nada têm a ver com as caricaturas que por vezes são criadas
acerca do pessoal que lidera movimentos de revolta popular. Mas confesso também
a minha grande confusão e apreensão com tudo isto. É que aquilo não tem saída:
para que vale o SIM à austeridade num país com um desemprego de mais de 25% e que teve uma queda no PIB na ordem dos 30%?
Que esperança poderão ter desempregados com 40 e mais anos? Ou mais novos?...
Os ricalhaços e os com emprego ficam satisfeitos, mas os outros? E o NÃO,
permanecendo no euro, que vantagem trará? A não ser que o Governo trate de
organizar o país para sair e assim conseguir algum tempo…
Esta utopia de direita que é a UE, que um dia pensou numa
PAZ duradoura e em blindar todo um conjunto de políticas de forma que outras se
não pudessem afirmar, parece estar a dar os primeiros passos para o fim. Inconsciente disso e do significado da importância da solidariedade, quem
deve estar todo feliz com os desaires da Grécia e do Syriza é a coligação
PSD/CDS que, com um processo eleitoral à porta, aqui pode encontrar excelentes exemplos para mostrar ao povo como é
mau embarcar em desvarios de esquerda.
Apesar de tudo, só por ter tido o prazer de ver um pequeno país
pôr em sentido aquela catrefada de dirigentes europeus, valeu a pena…
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