sexta-feira, novembro 15, 2019

Ilustração da vida



Voltei ao baú da casa dos fantasmas
Reparem na ilustração. Não lhe critiquem o mau estado, ela tem mais de cinquenta anos.
Sempre a olhei embevecido. Nela revejo o meu percurso, se calhar semelhante ao de muitos de vós. Recordo o primeiro acordar consciente na casa do largo de Castela, no quarto frente à rua da Olaria, com as unhas a raspar a parede. 
Depois, o arco parece tirado a papel químico daqueles que nós usávamos; faltam talvez os carros de pau que os prisioneiros junto à Câmara nos faziam ou as carretas que inventávamos para descer a rua. 
Recordo o enamoramento, quase paixão, os dias de nascimento dos filhotes, a alegria que eles me transmitiram. O primeiro na tropa em pleno processo revolucionário em curso, o segundo já bem estabelecido como técnico de informática.
Nunca fui grande caçador embora tivesse cometido algumas malfeitorias de que logo me arrependi e, é verdade, até já tentei o discurso político sem qualquer êxito. Ainda bem que não me ligaram nenhuma, pois não teria jeito para o exercício de funções.
Agora, parece que me sinto naquela fase descendente que culmina no velhinho que já não dá acordo de si e que tem à sua frente o paraíso. Já falta pouco tempo, ainda bem porque a adaptação é cada vez mais difícil.
Olho aqueles animais, de certeza a Pipoca não poderá estar lá, tão má que era, tão disponível que estava sempre para a mordidela ou para espetar as unhas. 
A ilustração mostra assim a sequência do nosso percurso na unidade de contrários vida e morte...

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