No local onde agora é o ISEG, existia uma pequena esquadra de polícia. Todos os dias cumpriam o saudável ritual de hastear e arrear a bandeira.
Do outro lado da rua, ainda existe uma pequena pastelaria, a pastelaria Dâmaso, com uma minúscula esplanada onde por vezes nos sentávamos à espera da hora da jantarada.
Um dia estava lá em amena cavaqueira com o Morgado, um sujeito de Viseu que morava perto da Emissora na célebre Calçada do Pasteleiro.
E, de repente, aconteceu aquilo…
Do outro lado da rua, começámos a ouvir vozes e movimentos. Era o infalível procedimento do arrear da bandeira. Ciente de que eram sete horas, levantei-me e preparei-me para o regresso a casa, o Morgado permaneceu sentado ainda aguardando o troco.
Mas uma voz gutural impediu as nossas intenções:
- Esse senhor aí…
Virámo-nos admirados.
Um fardadinho com cassetete olhava-nos com ar de poucos amigos.
- Esse senhor aí, venha cá falar connosco.
E fomos os dois a pensar no que aquilo ia dar. Quando chegámos, ele insistiu olhando para mim:
- Não é nada consigo. Vá-se embora.
- Mas nós não fizemos nada… eu estava com o meu amigo.
- Já disse. Retire-se imediatamente.
E apontou-me o cassetete. Bolas! Apressei-me a obedecer e abandonei o meu amigo.
Mal disposto, danado comigo, cheguei a casa e contei aos outros.
- Vão-lhe dar tareia até de manhã – dizia o Morais, o verdadeiro Morais.
Depois do jantar, passámos perto da esquadra, mas ficámos mais tranquilos porque tudo parecia calmo. Não se ouvia qualquer grito.
- Se calhar já está desmaiado. Vamos até ao Granada.
O Granada era o nosso café, perto dos armazéns Conde Barão. O grupo já começava a ser grande devido aos amigos do Morais e aos novos conhecimentos.
O caso do Morgado foi ventilado e todos estavam apreensivos, embora neste momento não houvesse qualquer vestígio de subversão entre nós.
E, de repente, entrou o Morgado. Admirados, vimos que ele não trazia nenhum olho ao peito e vinha todo sorridente, todo inchado por ser o foco das atenções.
- Grandes amigos, hem? – disse olhando para mim.
- Jorgito, estávamos todos preocupados. Que fizeram? Bateram-te?
- Não, apenas me identificaram, fizeram uns telefonemas e mandaram-me logo embora.
- Mas que tinhas feito?
- Aqueles burgessos entenderam que eu tinha desrespeitado a bandeira.
- O que? Tu? Quando?
- Quando foi o arrear… eu estava sentado e não me levantei.
- Mas eu estava contigo…
- Pois estavas, mas levantaste-te exatamente naquela altura para ires embora, inclinaste-te para dizer qualquer coisa e os estúpidos entenderam que isso era um gesto de respeito.
Ditosa sorte a minha! É que sempre tive gestos repentinos salvadores.
Do outro lado da rua, ainda existe uma pequena pastelaria, a pastelaria Dâmaso, com uma minúscula esplanada onde por vezes nos sentávamos à espera da hora da jantarada.
Um dia estava lá em amena cavaqueira com o Morgado, um sujeito de Viseu que morava perto da Emissora na célebre Calçada do Pasteleiro.
E, de repente, aconteceu aquilo…
Do outro lado da rua, começámos a ouvir vozes e movimentos. Era o infalível procedimento do arrear da bandeira. Ciente de que eram sete horas, levantei-me e preparei-me para o regresso a casa, o Morgado permaneceu sentado ainda aguardando o troco.
Mas uma voz gutural impediu as nossas intenções:
- Esse senhor aí…
Virámo-nos admirados.
Um fardadinho com cassetete olhava-nos com ar de poucos amigos.
- Esse senhor aí, venha cá falar connosco.
E fomos os dois a pensar no que aquilo ia dar. Quando chegámos, ele insistiu olhando para mim:
- Não é nada consigo. Vá-se embora.
- Mas nós não fizemos nada… eu estava com o meu amigo.
- Já disse. Retire-se imediatamente.
E apontou-me o cassetete. Bolas! Apressei-me a obedecer e abandonei o meu amigo.
Mal disposto, danado comigo, cheguei a casa e contei aos outros.
- Vão-lhe dar tareia até de manhã – dizia o Morais, o verdadeiro Morais.
Depois do jantar, passámos perto da esquadra, mas ficámos mais tranquilos porque tudo parecia calmo. Não se ouvia qualquer grito.
- Se calhar já está desmaiado. Vamos até ao Granada.
O Granada era o nosso café, perto dos armazéns Conde Barão. O grupo já começava a ser grande devido aos amigos do Morais e aos novos conhecimentos.
O caso do Morgado foi ventilado e todos estavam apreensivos, embora neste momento não houvesse qualquer vestígio de subversão entre nós.
E, de repente, entrou o Morgado. Admirados, vimos que ele não trazia nenhum olho ao peito e vinha todo sorridente, todo inchado por ser o foco das atenções.
- Grandes amigos, hem? – disse olhando para mim.
- Jorgito, estávamos todos preocupados. Que fizeram? Bateram-te?
- Não, apenas me identificaram, fizeram uns telefonemas e mandaram-me logo embora.
- Mas que tinhas feito?
- Aqueles burgessos entenderam que eu tinha desrespeitado a bandeira.
- O que? Tu? Quando?
- Quando foi o arrear… eu estava sentado e não me levantei.
- Mas eu estava contigo…
- Pois estavas, mas levantaste-te exatamente naquela altura para ires embora, inclinaste-te para dizer qualquer coisa e os estúpidos entenderam que isso era um gesto de respeito.
Ditosa sorte a minha! É que sempre tive gestos repentinos salvadores.
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