Que mártir, as 5.as feiras,
Quando ia para o mercado
Carregadinho, ajoujado
Com sacas, fardos e ceiras!
Se eu lhes disse que o jumento
Carregava como um macho,
Palavra que nao invento,
Calculo ainda por baixo.
E era tao forte o costume
Que fôsse o peso qual fosse,
No seu olhar triste e doce
Nao se lia um azedume.
Um dia, vendo-lhe as chagas,
Compadecido, o patrao
Resolveu, com muitas pragas,
Melhorar-lhe a situaçao.
E pôs-lhe em cima um carrego.
Tao leve, tao maneirinho,
Que até no dedo mendinho
O levaria um galego!
Pois, nao lhe digo mais nada!
O pacientíssimo bruto,
Ao sentir sôbre a lombada
Um peso tao diminuto,
Pôs-se aos coices a zurrar,
A recusar o serviço
E naquele reboliço
Atirou a carga ao ar!
Conheço muito casmurro
Que, em sendo tratado bem,
Agradece como o burro
De Vila Nova de Ourém.
(Do livro Fábulas e historietas de Acácio de Paiva) in Notícias de Ourém de 07-04-1935
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