terça-feira, novembro 12, 2019

O sequestro do Baloo

O Baloo vivia em Ourém e acompanhava todos os dias uma senhora, a sua dona, Natacha Pigmalião, ao supermercado. Era o cãozinho mais simpático, fiel e brincalhão que se pode imaginar.
Ficava à porta aguardando fielmente a dona. Não ligava a quem passava, olhava fixamente para o interior. Depois, quando ela saia, acompanhava-a a um metro de distância sem a perder de vista. Não consentia qualquer trela porque era fiel ao extremo.
Mas os nossos passos estão sempre a ser seguidos por quem se quer aproveitar de nós, sem nos apercebermos disso.
Houve alguém que viu o seu comportamento e pensou:
-É mesmo o cãozinho que eu precisava. Como farei para o apanhar?
O malvado arquitetou rapidamente um plano. Assim, um dia dirigiu-se ao café Central e comprou uma dúzia de pastéis de nata, carregando-os de soporífero. Na loja do Moreira, comprou “petfood” e no seu interior disfarçou o mesmo produto.
Pelas quatro da tarde, dirigiu-se a casa da dona do Baloo. Era simpático, charmoso, insinuante…
- Olá, minha doce amiga, trago aqui uma oferta para si e para o Baloo.
Ela ficou encantada.
- Oh! João! É tão simpático em ter-se lembrado de mim. Mas entre, entre, eu vou fazer um chá e terei muito prazer na sua companhia.
Na sala, estava o Baloo que ficou todo contente com a visita.
- Trago também estes docinhos para o Baloo.
- É tão simpático. Vou já dar-lhos.
Todo risonho, o simpático burlão ali esteve perto de meia-hora a dar conversa à dona do Baloo. Este já dormia a um canto quando ela disse:
- É curioso. Estou a ficar cheia de sono.
O João aproximou-se, deu-lhe um beijo na testa e confortou-a:
- Então durma, durma, eu retiro-me já de seguida. Deixo a porta aberta, porque o Baloo pode querer ir à rua…
E ela adormeceu profundamente.
Quando acordou, tinham passado umas três horas e reparou que estava sozinha.
- Meu Baloo! Onde está o meu Baloo?
O João já tinha saído e notou então que ele tinha deixado a porta aberta (o que não é de estranhar na Ourém dos bons tempos).
- Se calhar fugiu. Que lhe terá acontecido?
Nunca mais viu o cãozinho. Passaram-se alguns anos.
Um dia, quando consultava o Facebook, viu que ele acompanhava um sujeito muito parecido com o seu amigo João, mas uns anos mais velho, que aparecia todo encapuçado e que, descobriu pouco depois, se dedicava a enganar alunas com falsas promessas de torná-las grandes jogadoras de Bridge. Intrigada pensou:
- Terá sido ele?... Tenho de apurar a verdade.
E pôs-se a caminho de Madrid, procurando a morada que um dia o João lhe tinha fornecido…
Encontrou-os com alguma facilidade, pois o João, julgando ficar impune, não se disfarçava numa Metrópole tão grande.
Quando a viu, o Baloo correu para ela e saltou-lhe para o colo. Foi o primeiro beijo depois de tão longa ausência. Ficou sem dúvidas que era o seu Baloo. Mas o ar do João mostrou-lhe de imediato que não levaria a melhor.
- Cabrönaza!! Voy a dezer qua apoyas la independenza del a Cataluña e serás presa multos anos. Jejejejejeje!!!!!
E assim fez. A pobre senhora foi levada pela Guarda Civil, na sua mala encontraram duas granadas que o João sorrateiramente lá tinha posto e o Baloo ficou com o sequestrador.
Natacha Pigmalião nunca mais voltou a Ourém. Consta que ainda aguarda julgamento por terrorismo…



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