Bolinhas de naftalina (8)
A feira nova
Há uns cinquenta anos, nesta quinta-feira, era, talvez, o melhor dia de festa.
Mas houve uma vez que não o pude desfrutar.
Vivia ainda na casa do Largo de Castela, uma febre malvada apareceu e não pude sair de casa. Ao longe, houvia a música proveniente do carrossel e dos automóveis. O cheirinho a castanhas chegou a invadir a minha casa. O troar daquela carruagem que seguia por uma linha para testar músculo, por vezes, fazia-se ouvir.
Mas eu estava ali sem poder ir ver uma das coisas que mais adorava.
Para ajudar à desgraça, a família lembrou-se de chamar o médico. Lá veio o Dr. Preto que fez o exame necessário.
- Arranje-me água fervida.
O que é que ele estaria para fazer? Vejo-o sacar de um estojo com seringas ameaçadoras.
Lá longe a festa continuava, mas eu quase já não a ouvia pregado naquele filme de terror. Ele fez a preparação bem à minha frente, para eu aprender a ser homem, sem receio de nada. E lá veio o suplício.
Continuei na cama mais uns dias e tudo passou.
Quando me pude levantar, fui revisitar o lugar da feira. Já todos tinham ido embora. Junto à Câmara e ao depósito, tudo era calmaria, silêncio.
Hoje, se for ao lugar onde se costuma realizar actualmente, não há calmaria nem silêncio, mas também não conseguirei ter o som, o cheiro e o movimento da feira nova. Alguém se encarregou de acabar com ela.
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