Memórias do Vinil (12)
E no mesmo disco, Sérgio, está lá qualquer coisa como isto:
Lisboa tem um vestido azul feito de mar e guerra.
E cheira a laranjas maduras.
Quando as gaivotas trazem no bico
os primeiros pedaços de sol para
acender o dia, Lisboa deixa correr
os cabelos pelo Tejo e o Povo pelas ruas.
À mesma hora, a coragem agita no
sangue duas grandes asas inquietas.
Por todas as janelas destruídas, já
o mar entrou, derrubando acácias
cantando hinos de espuma.
E porque toda a coragem é necessária,
toda a esperança é legítima.
..
Chamar-te a ti, Lisboa, camarada,
e depois, eu sei lá, enlouquecer.
Que a loucura é quase um grão de nada
e tu tens um nome de mulher.
...
E pode ser que eu guarde a tempestade
de ter que aqui ficar. E então dizer
que sobre a minha boca ninguém há-de
pôr rosas de silêncio, se eu quiser.
E não podemos esquecer o Alcácer que Vier, de que eu não encontro a letra. Isto é que era uma tarde bem passada.
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