domingo, agosto 14, 2005

A casa das velharias

Nesta vida passam por nós tantos objectos que deixam de fazer parte do nosso quotidiano que é possível montar com eles uma segunda casa e dar-lhs nova utilidade.
É o que se passa com o local onde habito em Ourém.
Aqui, tudo tem uma segunda vida, tudo ganhou uma nova utilidade.
A cama com uns 60 anos que era dos primeiros residentes.
O Pioneer que adquiri na década de 70, a minha primeira aparelhagem, aquela que adquiri no tempo em que tudo custava a adquirir e de que por isso se gosta muito. Mantém alguma qualidade, mas, por vezes, os disparos do amplificador tornam-na assustadora e insuportável.
Aqui, posso ouvir os vinis, os EPs que, garantidamente foram os que mais gostei e os que mais me acompanharam.
Por exemplo, agora passa o Aznavour com o La Mamma canção que, na década de 60, se ouvia incessantemente em Ourém, nos tais rádios do Central e do Avenida. Achava-o chato, um pouco insuportável, mas agora tem o mérito de me fazer recuar no tempo quase uns 40 anos, para perto dos amigos. Curioso. O Aznavour lembra-me muito o Rui Leitão. Porque será?
E aquela cadeira de baloiço e de palhinhas? Tem uma estrutura em madeira impecável. Ali viajava há uns trinta anos sentindo-me numa cabana a baloiçar. Mas a palhinha fraquejou e nas costas ostenta um monumental rasgão. Procuramos quem a arranje mas não é fácil. “Agora é tudo sintético. Temos de a mandar para o norte...”. Isto em Ourém, a tal que quer ser também capital do móvel.
Os sofás também são dignos de registo. Feitos de napa vermelha completamente fora de moda mas que nem a gatita se atreve a rasgar com as unhas. Hoje seriam um sucesso numa casa mais avant-garde.
Enfim, uma casa de velharias de que me é cada vez mais difícil separar, porque são o pouco que me resta desse tempo...

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