segunda-feira, janeiro 15, 2007

Poemas entrelaçados..., 8
Porta #6: Tudo perder...


E que dizer de tudo que ao longo destes anos temos vindo a ser desapossados na nossa terra? O processo começou muito cedo. Primeiro, foi o afastamento, uma espécie de emigração. Isso traduziu-se na perda dos espaços frequentados durante anos e anos. Espaços, onde também tivemos desilusões, verdades que abruptas caiam em cima da nossa ingenuidade. Mas que possibilitavam um ambiente magnífico... E que dizer da bondade dos mais velhos que nos transportavam, na fiel viatura, para todo o lado, ajudando a abrir os nossos olhos para um mundo diferente onde ainda não havia este sentimento de perda?
É altura de chamarmos mais um poema de Pessoa:

Mágoa
Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!
Que angústia desesperada!
Que mágoa que sabe a fim!
Se a nau foi abandonada,
E o cego caiu na estrada -
Deixai-os, que é tudo assim.

Sem sossego, sem sossego,
Nenhum momento de meu
Onde for que a alma emprego -
Na estrada morreu o cego
A nau desapareceu.

Fernando Pessoa, 3-9-1924.

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