terça-feira, janeiro 16, 2007

Poemas entrelaçados..., 9
Porta #7: Voltar lá

Durante muito tempo pensamos: será que um dia lá conseguiremos voltar e reviver aqueles dias saudosos? Pouco a pouco a esperança vai-se perdendo. A esperança que não a recordação... que nos surge mais difusa, mas que nos assegura que estivemos presentes...
Recordo-vos uma aula de ginástica que não houve e, a partir da qual, cometi o atrevimento de jogar futebol com as sapatilhas brancas. Mas será que acreditam que havia alguns que também teimavam em voar... ou em fazer rebolar pedras na direcção do colégio a partir de uma encosta que tantas vezes era cenário de jogos de batota e um dia teve um parceiro inesperado.
Esta porta tem elementos em número excessivo, diz-se que quando alguém começa a recordar, muitas coisas aparecem em catadupa... como por exemplo o prato voador que procurou o director ou a bala traiçoeira.
É todo um ambiente que este poema de Tolentino de Mendonça nos traz à memória: também nós tivemos um Pico Ruivo...


Pico Ruivo
Todo o verão amontoei pedras e as dispersei
vigiava nuvens e sombras pelas fajãs
a mesma solidão perigosamente
transcrita naquele cinzento avermelhado
sob as escamas do céu
urzes sobrevivendo à dura estação
duas ou três cabras, uma tenda

túneis, atalhos, águas geladas
por aí nos conduz a travessia
a folha e a flor pertencem ao vento
um olhar (ainda o meu?) persegue-as entretido
na grande subida

mais abaixo, quando principiava a vereda
manchas de líquenes cobriam de igual modo
o nome dos lugares onde iremos
e dos lugares onde não chegaremos

Tolentino de Mendonça

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