sábado, outubro 26, 2019

A menina dos carrinhos de choque

Sempre que chega esta altura do ano, lembro-me dela, da menina que um dia veio à nossa velhinha Vila Nova de Ourém, integrada na equipa de suporte aos carrinhos de choque.
Era loira, linda, bem-feita e assaz simpática.

Quando a sua voz apregoava as sucessivas viagens, todos parávamos para a escutar. E um fenómeno curioso passou a desenrolar-se na nossa terra. Em vez de pagar a viagem dentro do carrinho a algum canastrão que saltasse para a lateral do mesmo, os jovens, sedentos de paixão, faziam bicha para ir comprar a senha ao pequeno balcão em que ela estava, comprando uma de cada vez, para assim a verem mais vezes, para beneficiarem do seu sorriso, e para tentarem uma conversa…
Ao suave toque da sua mão para entregar a senha ou o troco, sentiam o coração a derreter. Nunca os carrinhos de choque terão tido tanto sucesso.
Mas um dia tudo mudou…
A linda menina saiu do seu balcão e acompanhou um dos nossos numa viagem de carrinho. Que lata a daquele mânfio! Tinha conquistado a menina com a sua conversa de cascavel fedorenta.
A partir de então, nunca mais houve bichas frente ao balcão dos carrinhos. Agora ninguém gastava dinheiro em viagens, entretendo-se a contemplar, invejoso, aquele romance que durou até ao final da Feira Nova. De manhã, à tarde, à noite, a menina estava sempre com ele, um sujeito monopolista, absorvente, devorador…
Curiosamente, nesse ano, os carrinhos permaneceram mais uma semana do que era seu costume. Depois, foram embora, levando com eles a menina a qual nunca mais voltou à nossa terra, deixando esta maravilhosa recordação acerca da sua passagem…

Será que ainda alguém se lembra dela? Tenho a certeza que muitos recordam o seu nome… mas nenhum terá coragem para o pronunciar.

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